Friday, September 11, 2009

Leituras

Seguem-se as análises sobre poemas de Fernando Pessoa (dos que já tinham sido pretexto de ibisfilmes).
Alberto Caeiro, «Não tenho pressa. Pressa de quê?»
http://arquivopessoa.net/textos/2583
[ibisfilme de Carolina, 12.º 1.ª]
Neste poema estão bem patentes características de Alberto Caeiro, nomeadamente a sua atitude passiva perante a vida e o mundo que o rodeia.
Dificilmente alguém encara o tempo como o sujeito poético o faz, de uma forma natural e despreocupada - «Não tenho pressa. Pressa para quê?» - podendo, de certa forma, parecer exagerado em determinadas explicações – «Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega – nem um centímetro mais longe», mas que, rapidamente, se percebe serem necessárias. Através destes versos, entende-se que Alberto Caeiro vive segundo um ritmo próprio e com uma tranquilidade inigualável.
Caeiro vai ainda mais longe e, ironicamente («E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras», «Mas o que faz rir a valer…»), acusa-nos de não vivermos realmente a vida, pois, com tanta pressa, “estamos sempre fora dela”.
(Cláudia, 12.º 1.ª)

Álvaro de Campos, «Uma vontade física de comer o Universo»
http://arquivopessoa.net/textos/2861
[ibisfilme de Pedro II, 12.º 1.ª]
Nesta ode de Álvaro de Campos, podemos encontrar grande parte das características da sua escrita. Uma delas é o seu carácter espontâneo, torrencial e de exaltação à civilização industrial, com que aqui nos cruzamos sem grande dificuldade – “Olho os comboios como quem os estranha / Grandes coisas férreas e absurdas que levam almas.”.
Durante esta “vontade física de comer o Universo”, Campos põe também no papel os seus desejos e interrogações – “Para os lugares que — custa a crer — realmente existem / Não sei como, mas é no espaço e no tempo”, “Ah, por uma nova sensação física / Pela qual eu possuísse o universo inteiro / Um uno tacto que fizesse pertencer-me, / A meu ser possuidor fisicamente,” –, a excitação que sente pela busca incessante de alguma coisa – “Uma fúria desmedida” –, misturada com toda a ansiedade emocional que o assola – “Persegue-me como um remorso de não ter cometido um crime. / Como quem olha um mar / Olho os que partem em viagem...”. Ao lermos o poema, somos assaltados pela necessidade, pela ansiedade incontrolável do poeta por algo que nem mesmo ele chega a explicitar o que é.
Finalmente, e atendendo ao estilo utilizado por este heterónimo de Pessoa, deparamo-nos, nesta ode, com a conhecida articulação de versos curtos e longos, com o seu estilo dinâmico, com as anáforas e com as metáforas inesperadas – “Olho os que partem em viagem... / Olho os comboios como quem os estranha / Grandes coisas férreas e absurdas que levam almas.”.
(Ana, 12.º 4.ª)

Fernando Pessoa, «Às vezes, em sonho triste»
http://arquivopessoa.net/textos/554
[ibisfilme de Vranda & Vanessa, 12.º 6.ª]
Neste poema, o sujeito poético divaga, num sonho impossível que lhe passa pela mente. Nesse sonho, o poeta deseja estar num país longínquo onde se é necessariamente feliz, por nenhuma razão especificamente. Apenas se é feliz. Mas, rapidamente, o poeta vinca que é um “sonho triste”, pois sabe que este é impossível e que a observação da realidade que com este sonho contrasta é ainda mais angustiante.
Neste país, tal como ele desejaria na realidade, vive-se como se nasce: feliz, sem preocupações e sem noção da passagem do tempo.
Lá não existe o sentir nem o desejar. Diz o poeta que “É uma infância sem fim”, o que acaba por ser o seu maior desejo: voltar atrás no tempo para recuperar a infância perdida (“parece que se revive”), o que, fora dos seus sonhos, o poeta sabe ser impossível de acontecer. De qualquer maneira, não podendo reviver essa infância irremediavelmente perdida (que pesa na mente do poeta), vive-o no conforto dos seus sonhos: “Tão suave é viver assim / nesse impossível jardim”.
(Beatriz, 12.º 5.ª)

Álvaro de Campos, «A rapariga inglesa uma loura tão jovem tão boa»
http://arquivopessoa.net/textos/1128
[ibisfilme de Gil, 12.º 4.ª]
Trata-se dum poema do heterónimo Álvaro de Campos, em que está presente nitidamente o seu quase desgosto e o lamento por não ter casado com uma rapariga inglesa que amara na época. Interroga-se inúmeras vezes se teria sido feliz caso casasse com a mesma, e ele próprio não saber responder, mostrando aos leitores infelicidade e um profundo arrependimento. O poeta relembra a rapariga, imaginando-a em Inglaterra em sua casa, com os quatro filhos. Já no final, Álvaro de Campos assume ter sido a rapariga o seu único amor em toda a vida.
É um poema que pode ser considerado como um desabafo, com um tom de lamento e de arrependimento. O poeta revela uma falta de capacidade de enfrentar a infelicidade e recorda a rapariga com tristeza e mágoa por não ter casado com ela.
(Bernardo, 12.º 4.ª)

Alberto Caeiro, «Hoje de manhã saí muito cedo»
http://arquivopessoa.net/textos/3230
[ibisfilme por Sara C. & Sara A., 12.º 2.ª]
Neste poema podemos observar que o poeta segue sempre o seu instinto, não segue um caminho anteriormente pensado. Vai para onde o vento o levar, não escolhe o que irá fazer a seguir, não pensa no futuro, apenas segue o caminho que a vida lhe disponibiliza. Não tenta ser ele a traçar o seu futuro: é a vida que o faz, ele apenas a segue. O poeta segue o que sente e não o que pensa, tem uma vida sem rumo definido, sem projectos. O que tiver de acontecer acontece, ele não pode intervir no seu futuro: para quê pensar nele?
Tenta-se-nos transmitir que não vale a pena programar um futuro, se o que nos interessa é simplesmente o presente. Temos de “viver um dia de cada vez” e deixar-nos levar, como diz o poeta, pelo vento, pela natureza. Esta comunhão com a natureza é aliás característica de Alberto Caeiro.
(Carla, 12.º 2.ª)

Fernando Pessoa, «Cai chuva do céu cinzento»
http://arquivopessoa.net/textos/4289
[ibisfilme de Carlos, 12.º 4.ª]
O poema tem uma linguagem simples e sóbria. Tem três estrofes, as duas primeiras são quadras e a última uma quintilha. Tem seis silabas métricas e a rima é cruzada. Começa com a metáfora da chuva e acaba com a chuva dentro do meu coração.
A dúvida e a indefinição do eu poético está ligada directamente ao verso “Não sei se estou triste ou não”, que aparece na terceira estrofe. Esta dúvida permite uma ambiguidade em relação à estrofe anterior, onde o sujeito poético manifestou “a certeza” de que a tristeza do dia chuvoso e cinzento o faz pensar ainda mais na sua própria tristeza.
Neste caso, podemos associar este poema à temática do fingimento poético, por um lado, já que nada é aquilo que parece, ou à fragmentação do eu, por outro, pois não existe uma certeza na afirmação do que se sente, podendo o leitor pôr em causa o conhecimento que o sujeito poético possui de si mesmo.
(Carlota, 12.º 2.ª)

Álvaro de Campos, «Eu, eu mesmo…»
http://arquivopessoa.net/textos/2478
[ibisfilme de Ana, 12.º 4.ª]
Álvaro de Campos, o filho indisciplinado da sensação, é o heterónimo pessoano que o poeta mais publicou. Como Pessoa referiu nas suas Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Álvaro de Campos confessa que o melhor é sentir tudo de todas as maneiras.
O poema «Eu, eu mesmo…» baseia-se no sensacionismo, próprio de Campos, caracterizado pelas sensações, e na emoção espontânea, evidenciando o passado, o presente e o futuro. Revela o sentimento de angústia existencial, cansaço e sentido do absurdo e confuso - «Eu, eu mesmo… / Eu, cheio de todos os cansaços / Quantos o mundo pode dar.» -, admitindo ser um poeta que tenta libertar o eu e a sua identidade.
O poema é formado por versos livres, longos, articulados com versos curtos, e assenta num estilo dinâmico, perfilando-se como futurista. Campos usa algumas repetições, interrogações e comparações inesperadas («Imperfeito? Incógnito? Divino?»).
«Eu, eu mesmo» baseia-se na interrogação, no incerto e na procura de um sentido para a vida. Lembra-me um poeta solitário, cansado da sua vida e das pessoas, que se tenta libertar e perceber sensações através da melhor forma de expressão para si, a escrita.
(Carolina, 12.º 1.ª)

Alberto Caeiro, “Dizes-me: tu és mais alguma coisa”
http://arquivopessoa.net/textos/3358
[ibisfilme de Joana G., 12.º 1.ª]
No poema “Dizes-me: tu és mais alguma coisa”, Alberto Caeiro afasta-se da sua ingenuidade, espontaneidade semelhante à da Natureza, comparando-se a esta.
No início do poema, o sujeito lírico constata que há diferenças entre ele mesmo e uma pedra ou uma planta: pensa, sente, escreve, tem ideias e tem consciência dessas capacidades. Depois de se aperceber de que a consciência não o leva a conseguir ter explicações, admite não poder achar-se nem superior nem inferior à pedra ou à planta mas apenas diferente. Esta consciência demonstra uma das características da escrita de Caeiro, a de que o sentir se sobrepõe ao pensar. Todo o raciocínio não passa de uma descrição do que vê, não é um esforço do pensamento. Conclui que cada ser tem a sua função e dever no mundo, não consegue dizer se é mais ou menos do que os outros seres, apenas que é ele mesmo com as suas capacidades e que isso lhe basta e satisfaz a sua necessidade de saber.
(Carolina, 12.º 5.ª)

Fernando Pessoa, "Quero dormir. Não sei se quero a morte"
http://arquivopessoa.net/textos/2330
[ibisfilme de Ana, 12.º 4.ª]
Este poema de Fernando Pessoa exprime algumas das características principais da sua escrita e pensamento. Como é comum no ortónimo, a estrutura do poema é composta por cinco quadras de versos simples, com metáforas ("Aos seus verdes silêncios afastados") e paradoxos ("Do nada a que enfim vou."), entre outros recursos de estilo. A linguagem é espontânea e há rima entrecruzada em cada estrofe.
O texto ilustra também algumas das características do pensamento de Pessoa que estão presentes em outros textos do autor. Nota-se bastante a fuga da realidade para o sonho ("Quero poder nos campos prolongados / Meu ser abandonar") ou ("Quero poder mudar o universo / de um lado para o outro") e a angústia existencial ("E assim vivê-la, vívida e perdida / num sonho que nem dói."). Há também indícios leves da expressão, de certa forma, da incapacidade de viver a vida: "Quero poder imaginar a vida / como ela nunca foi.".
O sujeito poético prefere dormir a morrer, porque, em sonhos, não há a dor de viver. Em sonhos, pode fazer o que quiser com o mundo que é a sua vida, sem que haja impedimentos. Pode "viver" da forma que quiser, intemporal e incondicionalmente.
(David, 12.º 4.ª)

Alberto Caeiro, “Esta tarde a trovoada caiu”
http://arquivopessoa.net/textos/1475
[ibisfilme de Ricardo L. (12.º 1.ª)]
Podemos notar neste poema dois importantes aspectos do estilo literário de Alberto Caeiro. São eles a comparação dos seus sentimentos com a infância e o facto de retratar a natureza (exemplo disso é que compara os seus sentimentos e pensamentos ao perfume e cor de uma flor).
O poema trata de um sentimento que todos temos em dias como estes. Não é medo, talvez seja até um conforto mas, para o atingir, temos de rezar ou pedir a alguém que corra tudo bem (mesmo que esse alguém não exista!). Neste caso, o poeta reza a uma santa (Santa Bárbara), que, mesmo sabendo ele que ela não existe, o faz sentir confortável e protegido. Pensar que aquela santa a que o poeta rezava o protegia fazia-o sentir familiar mas, por outro lado, pensar o que seria a trovoada e explicar o porquê de se acreditar em santas não podendo vê-las. Aqueles pensamentos e a conclusão a que chegou deixaram-no novamente triste, exactamente como o tempo que se fazia sentir nesse dia.
(Diogo, 12.º 5.ª)

Alberto Caeiro, «Deito-me ao comprido na erva»
http://arquivopessoa.net/textos/379
[ibisfilme de Raquel & Soraia, 12.º 1.ª]
O poema de Alberto Caeiro mostra-nos alguns aspectos característicos deste heterónimo. Podemos ver que a linguagem predominante do poema é simples, que a rima está ausente, não se procurando que estrofes e versos tenham todos o mesmo tamanho.
É também visível a relação próxima de Caeiro com a natureza, de uma forma muito passiva e simples, como se desejasse ser parte dela: «Deito-me ao comprido na erva». É igualmente possível identificar, do terceiro verso em diante, a anáfora “O que me...”, seguida de várias frases soltas, que nos dão a sensação de sucessão no tempo do sujeito poético.
Este relata-nos acontecimentos que ocorreram num passado: esteve sempre rodeado de outros que lhe tentaram ensinar coisas, o que nem sempre foi bem sucedido, e por isso era apontado como alguém fraco e menos capaz. Penso que ele também pensa que tudo o que lhe fizeram não teve grande influência em si próprio: «O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio», «O que me disseram que havia nunca me alterou a forma de uma coisa», «O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos».
Agora, no presente, o sujeito poético afirma que quer esquecer todos os ensinamentos que lhe foram inúteis, ganhando assim uma espécie de liberdade própria, na minha opinião. É-lhe concedida uma oportunidade de se relacionar, de viver conforme quer, sem seguir o que é tido como ideal para alguém.
(Eliana, 12.º 1.ª)


Fernando Pessoa, “Se sou alegre ou sou triste?...”
http://arquivopessoa.net/textos/2623
[ibisfilme de João Af. D., 12.º 1.ª]
Este poema é assinado por Fernando Pessoa e remete para uma dúvida entre a alegria e a tristeza, evidenciando características próprias da poesia ortónima pessoana.
O sujeito poético interroga-se acerca do modo como vive a vida, considerando duas possibilidades, tristeza e alegria. Mas a dúvida permanente fá-lo questionar-se acerca de si mesmo (“Verdade, não sei que sou.”).
O poeta inicia o poema com a explicitação da dúvida que o acompanha: será ele alegre ou triste? Ele próprio não o sabe, questionando o que são cada uma das emoções.
A segunda quadra reforça a intensidade da primeira, insistindo na dúvida constante, chegando até o sujeito poético a afirmar-se nem “alegre nem triste”. Afirma-se como uma “qualquer alma que existe”.
Na última (terceira quadra) são utilizadas as palavras-chave do poema (“tristeza e alegria”) para destacar como o poeta se sente, acabando ele por admitir a existência, em si, de qualquer uma das emoções. Expressa também, nesta quadra, a dor de pensar (“Pensar nunca tem bom fim...”) e, no final, uma desfragmentação do ser, questionando o sujeito lírico tudo e não sabendo quem é.
Naturalmente, em termos estruturais, como costuma suceder com Pessoa ortónimo, deparamo-nos com um conjunto de quadras, repletas de linguagem simples mas complexa.
(Filipa, 12.º 5.ª)

Alberto Caeiro, «Vive, dizes, no presente»
http://arquivopessoa.net/textos/3226·
[ibisfilme de José, 12.º 4.ª]
Este poema tem algumas características que são identificativas do heterónimo Alberto Caeiro.
Como características principais deste heterónimo assinalam-se: viver só no presente, não querer saber de recordações do passado nem de perspectivas para o futuro, pois para ele só o presente é importante; ver e sentir sem pensar, em cada momento, sendo considerado o Mestre dos outros poetas por conseguir sobrepor o pensamento ao sentir, o que o ortónimo não conseguia («Eu devia vê-las, apenas vê-las;/ Vê-las até não poder pensar nelas,/ Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.»); e utilizar uma linguagem simples ao longo de todo o poema.
A estrutura deste poema é própria do estilo de Caeiro: total liberdade estrófica (há dísticos, tercetos, quadras e quintilhas), versos livres, inexistência de rimas e o predomínio do presente do indicativo.
Com este poema, o sujeito poético pretende transmitir que, para apreciarmos o que nos rodeia, devemos fazê-lo com a visão, pois apenas com esta somos capazes de compreender a realidade. É, assim, necessário libertarmo-nos de tudo o resto, incluindo o próprio tempo. Parece, no entanto, haver neste poema uma contradição com uma das suas características identificadas em cima, ao renunciar-se ao presente em favor da realidade: «Mas eu não quero o presente, quero a realidade;/ Eu quero só a realidade, as coisas sem presente».
(Filipa, 12.º.4.ª)

Alberto Caeiro, «Não tenho pressa. Pressa de quê?»
http://arquivopessoa.net/textos/2583
[ibisfilme de Pedro G., 12.ª 2.ª]
É um poema ilustrativo da vida no campo, típico da personalidade de Caeiro. A vida do campo, mais especificamente, a vida de pastor como a de Caeiro, é calma, sem preocupações, sem pressas. É neste tipo de realidade que o sujeito poético se encontra, numa realidade em que tudo é plano (“Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega”), em que as verdades são “absolutamente verdadeiras” ou inquestionáveis. No entanto, o sujeito poético reconhece a realidade em que vive como uma ilusão (“E vivemos vadios da nossa realidade”), sem nunca se preocupar com isso, permanecendo assim o espírito do poema. Como o título indica, o sujeito poético nunca tem pressa, nem tem pressa de verificar em que realidade vive, porque a natureza em seu redor é idílica.
(Francisco Ch., 12.º 2.ª)

Alberto Caeiro, «Quando vier a Primavera»
http://arquivopessoa.net/textos/991
[ibisfilme de Catarina F., 12.º 2.ª]
Este poema, entre outros, retrata muito bem a personalidade apegada à natureza de Alberto Caeiro. Este heterónimo de Fernando Pessoa só se importa em ver, de forma objectiva e espontânea, a realidade que o envolve e ignora os pensamentos metafísicos.
Uma outra característica sua está implícita na primeira estrofe do poema: Caeiro não se preocupa com o futuro nem com o passado, limita-se a viver o presente, de maneira sensacionista, sabendo que é prescindível à realidade e que esta continua sem ele (“Se soubesse que amanhã morria / E a primavera era depois de amanhã, / Morreria contente”, ll.8-10).
Por fim, o sujeito poético mostra-se despreocupado com a morte, porque sabe que um dia todos morremos e a Primavera continua a aparecer no dia seguinte. (“Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. / Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. / Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. / O que for, quando for, é que será o que é.”)
(Gonçalo, 12.º 4.ª)

Fernando Pessoa, «Do meio da rua»
http://arquivopessoa.net/textos/2559
[ibisfilme de António, 12.º 4.ª]
Este poema de Fernando Pessoa é simples e, no entanto, diz muito. Já conhecendo um pouco da escrita deste poeta e dos temas em que se foca, posso dizer que este pequeno conjunto de quadras remete para o divagar da mente deste homem pelo seu passado, mais exactamente pela sua infância. A maneira como Pessoa descreve uma rua, um pregão, um toque no braço e, de repente, memórias de quando era criança, em muito se assemelha a uma viagem no tempo. Parece quase uma cena cinematográfica em que, bastando o toque ao de leve e o som do grito cantado na rua, o sujeito poético e, consequentemente, o leitor, são levados para outro tempo e espaço.
Este é um poema que remete, de novo, para a nostalgia que o poeta sente da infância. O modo tão rápido como se lembra de quando era criança a partir de um pregão é a forma mais clara de evidenciar esta característica. E, no entanto, o sujeito poético mostra necessidade de reprimir esta lembrança. Talvez não porque lhe traga más recordações, mas por ter receio de começar a viver do passado que ficou para trás e das lembranças que permaneceram. É, realmente, uma nostalgia que pode trazer tristeza e que pode inundar a mente, afogando-a.
(Inês, 12.º 6.ª)

Alberto Caeiro, «A espantosa realidade das coisas»
http://arquivopessoa.net/textos/3364
[ibisfilme de José, 12.º 4.ª]
Alberto Caeiro é um dos heterónimos de Fernando Pessoa, e aliás o mestre de todos os outros, segundo o próprio poeta (veja-se o que diz na carta célebre a Adolfo Casais Monteiro).
O sujeito poético encontra uma forma de se afirmar como ser pragmático e racional, devido ao pensamento ser tão natural e não questionar o que pensa nem o sentido das coisas.
O poema mostra que Alberto Caeiro não reflecte sobre o que escreve, simplesmente pensa na existência das coisas; interessa-lhe viver o presente, e não têm qualquer relevância, para ele, o futuro e o passado.
Por outro lado, não se importa com o que os outros pensam de si, mesmo que digam que é um poeta materialista.
Caeiro é muito realista naquilo que escreve e o valor da sua poesia está nas sensações presentes que não são questionadas.
Tudo o que Alberto Caeiro escreve é espontâneo, numa linguagem fluente e simples.
(Joana, 12.º 5.ª)

Fernando Pessoa, «O Desejado»
http://arquivopessoa.net/textos/98
[ibisfilme por Hugo & João A., 12.º 1.ª]
Em Mensagem, a figura de D. Sebastião surge como o símbolo mais importante da obra, que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, assim, num sebastianismo profético.
O poema «O Desejado», presente na terceira parte (“O Encoberto”), reflecte o desejo de Pessoa de que D. Sebastião (“Galaaz com pátria” e “Mestre da Paz”) regresse a Portugal. Este regresso permitiria erguer novamente “A alma penitente do povo / À Eucaristia Nova” e revelar o Santo Graal.
O desejo de concretização destes feitos levados a cabo por D. Sebastião imprime uma esperança ao futuro de Portugal, que, de acordo com Pessoa, estaria assegurado através da construção de um “Quinto Império” espiritual. Este Império, colocado sob os desígnios do “Desejado”, surge como um acto de paixão pela pátria.
Nos versos imperativos “Onde quer que estejas, entre sombras e dizeres, / (…) / Ergue-te do fundo de não seres / Para teu novo fado!”, o sujeito poético transmite-nos a sua forte convicção de que D. Sebastião constituía a salvação do nosso pequeno Portugal, da nossa Pátria e tal seria o destino do nosso rei.
(Joana C., 12.º 6.ª)

Alberto Caeiro, «Para além da curva da estrada»
http://arquivopessoa.net/textos/2666
[ibisfilme de Carlota & Alexis, 12.º 1.ª]
«Para além da curva da estrada» não sabemos o que há, porque só sabemos o que vemos e o que nos está à frente. Parece-me uma analogia com o presente e o futuro. O poema diz que não vale a pena pensarmos no que se vai passar no minuto a seguir, porque, quando esse momento chegar, logo saberemos o que é. O que não é óbvio para nós e o que não vemos é para continuar assim, não vale a pena querer saber nem perguntar. É uma ignorância que nos dá asas para desfrutar o hoje. É ao presente que devemos estar inteiramente entregues. Se estamos aqui e não ali, se fazemos isto e não aquilo, se estamos com esta pessoa e não com aquela, há, de certeza, alguma razão, embora não saibamos qual é. Ora, nem vale a pena saber; nem sequer querer saber o que há «para além da curva da estrada».
Estamos entregues ao presente e é no agora que devemos viver intensamente. Não existe futuro, porque não vale a pena pensar nele e, quando lá chegarmos, já não se chama futuro, é presente. E o presente é a nossa estrada sem curva.
(Joana G., 12.º 1.ª)

Fernando Pessoa, «Se sou alegre ou sou triste?...»
http://arquivopessoa.net/textos/2623
[ibisfilme de João Af. D., 12.º 1.ª]
“Se sou alegre ou sou triste?...” fala-nos de uma dúvida constante de Fernando Pessoa sobre a sua vida, uma hesitação sobre a sua felicidade. Terá ele conseguido alcançar os seus objectivos? Será ele finalmente feliz, ou não deixa de ser um indivíduo triste? Saberá ele, de facto, quem é?
Neste poema estão presentes as principais características de escrita de Fernando Pessoa ortónimo. Começando logo pelo título, podemos observar a sua perda de identidade, demonstrada por uma dificuldade em perceber quem é realmente. Pessoa depara-se com o obstáculo de compreender os seus sentimentos e pensamentos, uma vez que procura sempre escrever distanciado dos mesmos. Para o poeta, o ser é um mistério indecifrável; por isso, o poeta infirma o impossível encontro com a sua identidade.
Ao longo do poema somos confrontados por uma obsessão de análise, uma interrogação e inquietação permanentes (“Se sou alegre ou sou triste?... / A tristeza em que consiste? / Da alegria o que farei? / Afinal, alegre ou triste?”), de perguntas quase sempre irrespondíveis. No entanto, acaba por aceitar com resignação: “Pensar nunca tem bom fim... / Mas a alegria é assim...”.
Neste poema é reconhecível o estilo de Pessoa ele mesmo. É notável a sua preferência pela métrica curta e pela linguagem simples. Recorre constantemente às interrogações e às reticências, mostrando o seu desagrado, a angústia pela dor de pensar e por não ser capaz de se identificar.
(Joana L., 12.º 1.ª)


Alberto Caeiro, «A espantosa realidade das coisas»
http://arquivopessoa.net/textos/3364
[ibisfilme de Filipa, 12.º 5.ª]
Neste poema de Alberto Caeiro facilmente descobrimos as principais características do mestre de todos os heterónimos de Fernando Pessoa. Logo nas palavras que compõem o título, “A espantosa realidade das coisas”, compreendemos, como para este poeta, que não é poeta, apenas vê, o valor das coisas reside nelas mesmo e exclusivamente na sua existência, independentemente do que pensamos sobre elas.
Ao longo de todo o poema apercebemo-nos de como, para Caeiro, as coisas não têm de ser explicadas, simplesmente existem e de que, por isso,. o seu único sentido são elas mesmas.
No entanto, para saber vê-las é preciso separar o acto de sentir do acto de pensar, pois é o pensamento que deforma «a espantosa realidade das coisas».
Caeiro encara a Natureza como o que há de importante, pois só para ouvir o vento vale a pena ter nascido, excluindo o valor do Homem, incluindo ele próprio, pois até os seus versos valem por eles e não pelo seu autor.
Assim, negando a complexidade das coisas, Caeiro abandona-se aos sentidos, sem esforço e independente da própria vontade, mas apenas pela sua pura existência sensível, levando-nos para uma sensação metafísica da poesia.
(João Maria, 12.º 4.ª)

Álvaro de Campos, «O bêbado caía de bêbado»
http://arquivopessoa.net/textos/1241
[ibisfilme de Bruno, 12.º 4.ª]
Neste poema, o sujeito poético narra uma aventura da sua vida. Ouve um bêbado a cair no meio da rua e, no seu próprio torpor alcoólico, não o ajuda. Nas últimas estrofes, percebe-se que o bêbado a cair é uma metáfora para a falta de sentido do poeta. Ele pensa que, tal como o homem caiu na rua, também ele perdeu o rumo da vida E isso angustia-o.
Este poema está inserido na primeira fase de Álvaro de Campos – o decadentismo. O sujeito poético exprime o tédio de viver e a necessidade de ter novas sensações. Está desapontado com a vida sem sentido que leva e procura romper a monotonia com novas experiências. Esta característica é a mais óbvia no poema em estudo, onde o poeta compara a sua vida a um bêbado que cai na rua.
(Miguel, 12.º 2.ª)

Alberto Caeiro, «Esta tarde a trovoada caiu»
http://arquivopessoa.net/textos/1475
[ibisfilme de Tomé, 12.º 6.ª]
Neste poema, Alberto Caeiro começa por mostrar a sua faceta sensacionista, ao revelar só acreditar no que os seus olhos vêem, os seus ouvidos ouvem, as suas mãos tocam, a sua língua sente e o seu nariz cheira, usando uma linguagem sobretudo conotativa (através de metáforas ”pela encosta do céu abaixo” e de pleonasmos ”chovia chuva do céu”).
Posteriormente, o sujeito poético refere uma característica das zonas rurais que ele próprio não acreditava que existisse: a fé. Caeiro, ao questionar a fé e a existência de Santa Bárbara (santa protectora das trovoadas), relacionando-a com a Natureza, tema recorrente tão característico de Caeiro, leva o leitor a aperceber-se da sua recusa em aceitar tudo o que está relacionado com o domínio da subjectividade (a religião, neste caso).
(Pedro G. 12.º 2.ª)

Fernando Pessoa, “António de Oliveira Salazar”
http://arquivopessoa.net/textos/4357 e http://gavetadenuvens.blogspot.com/2009/09/9.html
[ibisfilme de João G., 12.º 1.ª]
Devo confessar que nunca imaginei Pessoa a escrever um poema deste calibre. Penso que foi a primeira vez que senti que o sujeito poético colocava para fora todas as suas emoções e pensamentos. Primeiro, dá a entender que o poeta quer enaltecer, de alguma forma, Salazar (como foi visto, e bem, por João, ao colocar um vídeo da vitória do ditador português na final do concurso “Grandes Portugueses”), mas vamo-nos apercebendo de que tudo não passa de uma sátira a Salazar e ao Estado Novo.
Não considero este poema como do melhor Pessoa, mas reconheço-lhe a força. Não foi muita gente que ousou criticar Salazar e o Estado Novo, mas o poeta, como que adivinhando que o seu fim estava para breve, decidiu mostrar a sua fúria a todos os portugueses, proferindo até dois versos muito insultuosos no final do poema: «Vão para o Salazar / Que é puta que os pariu».
Espero que a garra que Pessoa mostrou neste poema inspire outros poetas a seguir este rumo. Nos dias de hoje, em que a sociedade pouco critica quem nos governa, necessitamos de mais gente como este Pessoa anti-salazarista.
(Pedro I, 12.º 1.ª)

Fernando Pessoa, «Quando as crianças brincam»
http://arquivopessoa.net/textos/2185
[ibisfilme de Sara C. & Sara Alves, 12.º 2.ª]
O protagonista deste poema são as crianças. O sujeito poético alegra-se quando ouve as crianças brincar (“Quando as crianças brincam / E eu as oiço brincar, / Qualquer coisa em minha alma / Começa a se alegrar.”); no entanto, ao ouvir as crianças, surge-lhe o sentimento da infância perdida (“E toda aquela infância / Que não tive me vem, / Numa onda de alegria / Que não foi de ninguém.”). O poeta gostaria de ter sido como as crianças, ter tido uma infância feliz (há, enfim, nostalgia da infância). Na verdade, até fora feliz nesses tempos, sem saber que o era (é a felicidade inconsciente). A infância, para Pessoa, é o passado inevitavelmente perdido, enterrado, morto. Um tempo distante, inalcançável, longínquo, diferente do presente. No presente, Pessoa é um homem desconhecedor de si mesmo, do que fora e do futuro (“Se quem fui é enigma, / E quem serei visão, / Quem sou ao menos sinta / Isto no coração.”).
(Francisco D., 12.º 2.ª)

Álvaro de Campos, «O que há em mim é sobretudo cansaço»
http://arquivopessoa.net/textos/269
[ibisfilme de Xavier, 12.º 4.ª]
O poema “O que há em mim é sobretudo cansaço” é assinado por um dos heterónimos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, e descreve a forma como o poeta se enquadra perante a vida.
O poema é composto por quatro estrofes: uma quadra, uma nona e duas oitavas. Os versos não têm métrica nem rima definida, o que aliás é comum em Campos
Tendo em conta o conteúdo do poema, podemos assinalar duas posturas diferentes na vida, aquela que o sujeito poético assume e a forma como algumas pessoas a encaram. O “eu” lírico reconhece que há pessoas que vivem a vida intensamente, apaixonam-se violentamente e desejam arduamente o impossível, o inatingível, ou contentam-se mesmo com pouco mas continuam felizes. Álvaro de Campos pertence àqueles que só desejam aquilo que conseguem atingir, só amam sem paixão infinita e só querem o que conseguem obter. O poeta contenta-se com uma vida mediana, sem excessos, sem paixão, sem sentimentos profundos, uma vida monótona e fatigante. Álvaro de Campos está cansado da vida rotineira e uniforme que tem tido ao longo da sua existência e que se adivinha inalterável.
(Ricardo, 12.º 6.ª)

Álvaro de Campos, «O que há em mim é sobretudo cansaço»
http://arquivopessoa.net/textos/269
[ibisfilme de Xavier, 12.º 4.ª]
O poema “O que há em mim é sobretudo cansaço”, do heterónimo de Fernando Pessoa mais representativo do Modernismo português, Álvaro de Campos, do ponto de vista formal, apresenta versos livres, uma desigualdade de versos por estrofe; as suas rimas não obedecem a um esquema rimático padronizado.
O poeta mostra-se cansado diante da realidade em que vive. Esse cansaço está presente em todo o poema pois o sujeito poético mostra-se indiferente ao que está em seu redor. Porém, não se sente aborrecido por causa de pequenos acidentes que lhe ocorrem na vida ou por causa de não fazer nada. Antíteses como as do segundo e terceiro versos da primeira estrofe mostram que apenas está cansado, no sentido literal.Contraditoriamente à ideia exposta na primeira estrofe, o poeta alega que “A subtileza das sensações inúteis / As paixões violentas por coisa nenhuma” são a causa desse cansaço. No entanto, para outras pessoas, “Há sem dúvida quem ame o infinito / Há sem dúvida quem deseje o impossível / Há sem dúvida quem não queira nada” (anáforas), uma vez que existem seres humanos que acreditam encontrar um suporte noutras pessoas ou ideias, para não ficarem cansados como o poeta.O “eu” liberta as emoções (através de anáforas e antíteses) ao dizer “Porque eu amo infinitamente o finito / Porque eu desejo impossivelmente o possível / Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser / Ou até se não puder ser”. O que revela grande ambição pois, ao invés dos outros que acreditam nos sonhos, ele almeja tudo isso e um pouco mais. A conclusão, presente na quarta estrofe, é a de que as outras pessoas vivem porque há algo que as faz viver (“a média entre tudo e nada”). Para o poeta, por não ser compreendido e não atingir seus desejos, fica cansaço, no sentido denotativo (“Um supremíssimo cansaço/ Íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço”).
(Rodrigo, 12.º 4.ª)

Ricardo Reis, «Não quero recordar nem conhecer-me»
http://arquivopessoa.net/textos/2792
[ibisfilme de Carla & Joana III, 12.º 2.ª]
A mensagem transmitida ao longo do poema reflecte sobretudo o facto de, para o poeta, se dever aceitar o presente tal como ele nos é apresentado, sem o avaliarmos: “Tanto quanto vivemos, vive a hora”; “ Melhor é vida/Que dura sem medir-se”.
É também notória a visão do poeta sobre aqueles que tudo querem interpretar. Para o sujeito poético, a sabedoria está em aceitar pacificamente o que nos rodeia, sem muito nos questionarmos e sem tentarmos entender o que somos: “Não quero recordar nem conhecer-me/ Somos demais se olharmos em quem somos/ Ignorar que vivemos /Cumpre bastante a vida”.
O poema tem essencialmente duas perspectivas: parte do individual, visível nos primeiros versos, para uma apreciação mais vasta da vida no geral, reflectida sobretudo nos últimos dois versos.
O poema expressa características normalmente associadas à poesia de Ricardo Reis, a aceitação de uma forma racional e disciplinada da realidade tal como ela é, a resignação perante o que tem e o que a vida lhe traz e a ideia de que devemos aproveitar o presente, que é a única coisa que podemos ter como garantida. É, afinal, a mescla epicurismo-estoicismo que se atribui a Reis.
(Sara C., 12.º 2.ª)

Alberto Caeiro, “Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,”
http://arquivopessoa.net/textos/1182
[ibisfilme de Joana & Carla, 12.º 2.ª]
Como é típico de Alberto Caeiro, o poema tem um estilo discursivo, entre o argumentativo e o aforístico, e não há utilização de rima.
O poeta começa por sugerir algo abstracto, a beleza, que não entende possa servir para classificar um objecto. Acaba por demonstrar que não é assim que se deve fazer, é preferível classificar com dados concretos (como a cor e a forma). Explica essa sua maneira de pensar, recorrendo à Natureza de que tanto deseja fazer parte e onde se pretende diluir (“Tem beleza acaso um fruto?”).
Outra característica de Alberto Caeiro que se encontra no texto é a sua despreocupação com o sentido da vida (“que vivo só de viver” / “vêm ter comigo as mentiras dos homens (…) perante coisas que simplesmente existem”), comparando-se sempre com a simplicidade das coisas.
Tudo o que o poeta pretende mostrar é que as coisas são o que são, apenas aquilo que vemos e nada mais, no que temos a prevalência do sensacionismo de Caeiro. Não é necessário tentar explicar algo que simplesmente existe.
(Sara A., 12.º 2.ª)

Álvaro de Campos, «Não! Só quero a liberdade!»
http://arquivopessoa.net/textos/3343
[ibisfilme de Filipa, 12.º 6.ª]
«Não! Só quero a liberdade!» pode dividir-se em duas partes distintas.
A primeira, reunindo a primeira e a terceira estrofe, enfatua a necessidade do sujeito poético de se despojar de tudo o que o rodeia para se encontrar consigo mesmo. Os valores materiais e a presença constante de outras pessoas inibem a expressão do seu verdadeiro eu, o que o leva a sentir-se frustrado e ansioso («Amor, glória, dinheiro são prisões»; «Quero respirar o ar sozinho, / Não tenho pulsações em conjunto, / Não sinto em sociedade por quotas, / Não sou senão eu, não nasci senão quem sou, estou cheio de mim.»). Consequentemente, o poeta sente a necessidade de fugir aos lugares-comuns da sociedade e de se afirmar enquanto indivíduo («Quero ser igual a mim mesmo. / Não me capem com ideais! Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras! / Não me façam elogiável ou inteligível!).
A segunda, agrupando a segunda e a quarta estrofe, é maioritariamente estilística — a metáfora «Eu e o universo», mais premente na segunda estrofe, mostra como o sujeito poético sente a necessidade de se isolar e encontrar sossego na solidão. Na quarta estrofe, fazendo uso do cenário previamente criado, acentua a sua exaustão face ao mundo que o descontenta — o seu pensamento trivial, «Amanhã vou buscá-la ao quintal do lado», é repetido várias vezes, à medida que vai encurtando, tal como se o poeta, em vias de adormecer, balbuciasse o que lhe ia na mente.
(Sílvia, 12.º 1.ª)

Álvaro de Campos, «A música, sim a música…»
http://arquivopessoa.net/textos/945
[ibisfilme de João Af. D., 12.º 1.ª]
Neste poema de Álvaro de Campos, a música é tomada como assunto principal. O piano é tocado por alguém que não o sabe fazer, mas é através dessa melodia que o sujeito poético lembra a sua infância e as suas mágoas. Chega à conclusão de que, apesar de ser tocada por alguém que toca mal, não deixa de ser música.
Na última parte do poema, o sujeito poético questiona-se acerca da nova forma de ver o mundo, de ouvir a música («Que novas paisagens de um piano mal tocado?»), enquanto se toca uma melodia seguida, racional, que o poeta também acaba por colocar em causa.
Como é característico do estilo de Álvaro de Campos, o poema centra-se muito nas sensações, questionando pensamentos (neste caso, quando se ouve um piano a ser mal tocado).
Está também presente uma emoção espontânea ao longo de todo o texto, acompanhada por repetições, exclamações e interjeições: «Ah quantas infâncias tive!», «Racional, meu Deus!».
O poema termina com uma frase, «A música!... A música!…», que nos deixa a reflectir sobre o seu significado e importância daquela sensação.
(Susana, 12.º 5.ª)

Álvaro de Campos, “Não, não é cansaço…”
http://arquivopessoa.net/textos/228
[Joana L., 12.º 1.ª]
Este poema representa claramente um dos temas recorrentes do heterónimo Álvaro de Campos: a angústia existencial, o cansaço e desilusão com a vida. O sujeito poético transmite a sua sensação, intercalada com a confusão do que é esse mesmo cansaço e o sofrimento que daí nasce. No quinto verso, a comparação feita com os cegos que cantam na rua ao som do realejo leva ao reforço da ideia de indefinição do cansaço e à conclusão de que os sentidos se relacionam com esta sensação. Este poema insere-se na fase pessoal-intimista do poeta.
Utilizam-se algumas repetições, como é comum em Campos, versos livres e, maioritariamente, curtos. O poema é constituído por seis estrofes, sendo as duas primeiras sextilhas. Não há nenhum esquema rimático convencionado, o que serve bem a coloquialidade típica deste heterónimo.
(Tiago, 12.º 6.ª)

Ricardo Reis, “Cada um cumpre o destino que lhe cumpre”
http://arquivopessoa.net/textos/408
[ibisfilme de Inês & Joana C., 12.º 6.ª]
O poema ilustra bem a veia estóica de Ricardo Reis, que disserta sobre a prevalência da cognição face às emoções. Neste poema, o sujeito poético conclui que cada um de nós, tal como cada uma qualquer outra coisa, é apenas o que é, não devendo contestar a sua existência ou a sua causa. Tudo isto deriva da ideia de que tudo está explicado, quer nós entendamos ou não, e que, por isso, se torna inútil e dispendiosa esta procura de informação e de um propósito para a nossa vida. O poeta defende assim uma abordagem passiva do viver o dia-a-dia, estipulando uma aceitação do nosso irrefutável destino. Utiliza, como comparação, “as pedras na orla dos canteiros”, que não questionam nem se afligem, reconhecem simples e silenciosamente a função que lhes coube e exercem-na sem curiosidade.
(Tiago, 12.º 1.ª)

Alberto Caeiro, “Só a natureza é divina, e ela não é divina”
http://arquivopessoa.net/textos/617
[ibisfilme de Francisco Ch., 12.º 2.ª]
Este poema traduz bem algumas das principais características da poesia de Alberto Caeiro. O poeta rende–se ao culto da beleza e à simplicidade da natureza, exalta-a e lamenta a necessidade da linguagem dos homens para exprimir as sensações que aquela lhe provoca.
No poema, a natureza é objectiva, real, não necessita de explicações, representa a tranquilidade e harmonia das “cousas”. Estas não têm personalidade, apenas são o que são. Alberto Caeiro revela-se o poeta das sensações, o que lhe interessa é captado pelos sentidos e o pensamento é apenas necessário para explicar aquilo que sente perante o deslumbramento que a natureza lhe causa.
De acordo com o estilo de Alberto Caeiro, o poema apresenta-se em estilo coloquial, sem rima, com métrica irregular e usa comparações e metáforas para concretizar as sensações.
Optei por este poema porque é da autoria de Alberto Caeiro, e este é o heterónimo de Fernando Pessoa que mais admiro. Partilho com ele o gosto pelas coisas simples da natureza que nos despertam os sentidos sem necessidade de quaisquer explicações: “Mas as coisas não têm nome nem personalidade / Existem, e o céu é grande e a terra larga”.
(Tomé, 12.º 6.ª)

Fernando Pessoa, «O amor, quando se revela»
http://arquivopessoa.net/textos/1318
[ibisfilme de Inês, 12.º 2.ª]
O poema "O amor, quando se revela", de Fernando Pessoa, discorre sobre o amor. O poeta expressa o seu amor em relação a uma rapariga e o que lhe acontece sempre que tenta transmiti-lo.
Através de várias expressões ao longo do poema, percebemos que o poeta se sente angustiado por não conseguir expressar tudo o que sente: "Se pudesse ouvir o olhar / E se um olhar bastasse / P´ra saber que a estão a olhar". Destes versos retiramos o desejo de o poeta dizer o que sentia. Traduz, assim, o sentimento do amor e a tristeza, a angústia de não se declarar a quem quer e de a amada não poder ouvi-lo.
(Vanessa, 12.º 6.ª)

Alberto Caeiro, «Deito-me ao comprido na erva»
http://arquivopessoa.net/textos/379
[ibisfilme de Raquel & Soraia, 12.º 1.ª]
No poema Deito-me ao comprido na erva, de Alberto Caeiro, estão bem vincadas algumas características deste heterónimo de Pessoa. Primeiramente, é evidente a relação próxima de Caeiro com a Natureza, vivendo segundo o seu ritmo e desejando ser sua parte, numa relação passiva e desprovida de complexidades, simples, instintiva e ingénua. É também constatável o seu desejo de viver apenas o presente, vivenciando e acolhendo tudo quanto as sensações, sobretudo visuais (“O que me aprenderam a ver nunca tocou nos meus olhos”), lhe proporcionam e também a forma como tenta distanciar-se do passado (“E esqueço do quanto me ensinaram”) e não antever o futuro, adquirindo uma liberdade e autonomia próprias.
Considera que tudo o que aprendeu em nada influenciou ou alterou o seu pensamento e opinião (“O que me ensinaram nunca me deu mais calor nem mais frio”). Recusa-se a aceitar a subjectividade e a introspecção na expressão das emoções, sendo o poeta do real objectivo (“O que me apontaram nunca estava ali”), limitando-se a descrever o que vê e tornando o abstracto em concreto através do uso de substantivos em detrimento de adjectivos.
A linguagem utilizada no poema é simples, num tom familiar, não fosse Caeiro “inculto” academicamente, e há ausência de rima e liberdade estrófica.
(Ricardo V., 12.º 1.ª)

Alberto Caeiro, «Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável.»
http://arquivopessoa.net/textos/1041
[ibisfilme de Carolina, 12.º 1.ª]
Este poema é uma clara afirmação de Alberto Caeiro como o mestre das sensações. Tem início com um relato das condições meteorológicas, aproveitando-se logo de seguida para as relacionar com as emoções do sujeito poético, algo muito característico de Alberto Caeiro. O sujeito poético é objectivo, analisa as coisas tal como são, e identifica-se com a natureza, encontrando semelhanças entre ela e o seu próprio ser. No entanto, o que mais distingue este poeta é o facto de o sujeito poético se limitar àquilo que existe, às sensações do momento, e, a partir disso, reflectir sobre as suas próprias emoções, que nunca são demasiado intimistas ou subjectivas. Vive com aquilo que tem e aceita as coisas como elas são. Este é apenas mais um dos poemas que são tão característicos de Alberto Caeiro, criador do sensacionismo e mestre de Pessoa, que o irá ensinar a viver no presente e a aproveitar aquilo que está diante de si.
(João Af. D., 12.º 1.ª)

Alberto Caeiro, “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia”
http://arquivopessoa.net/textos/3555
[ibisfilme de Susana, 12.º 5.ª]
O sujeito poético sente a necessidade de expressar o facto de todos saberem tanto sobre o rio Tejo e ninguém se preocupar com o rio da sua aldeia. Neste poema mostra-se a importância que um rio pode ter, neste caso, por se situar perto de uma cidade; mas, no fundo, privilegia-se depois o valor afectivo do rio conhecido de poucos.
O rio Tejo, como está perto de Lisboa, é o portal para todas as pessoas, de todo o país, que querem sair de Portugal e abrir os seus horizontes, ou a via para quem regressa com saudades da sua pátria. Banhando uma cidade como Lisboa, ganha logo mais prestígio e sugere maior dedicação, pois possibilita uma maior acessibilidade a todos os níveis. Visto que Lisboa é uma cidade com muita população, é natural que as pessoas recorram mais ao rio Tejo e se preocupem em saber de onde ele vem e para onde vai, pois ele influencia todos os rumos para alcançarem os seus fins.
E, por esta grandeza atribuída ao rio Tejo, o sujeito poético tende a comparar a popularidade do rio da sua aldeia, que é nenhuma, à do rio que banha a cidade de Lisboa. Uma vez que a sua aldeia deve ter muito menos gente, não é o seu rio conhecido como o Tejo, nem tem os navios que o Tejo tem sobre ele, para levar as pessoas a destinos mais longínquos, porque desagua no Oceano Atlântico. E, no entanto, aquele é que é “o rio que corre pela minha aldeia”.
(Micaela, 12.º 1.ª)

Fernando Pessoa, “Há quase um ano não escrevo”
http://arquivopessoa.net/textos/2329
[ibisfilme de Pedro M., 12.º 2.ª]
“Há quase um ano não escrevo” faz parte da facção lírica da poesia de Fernando Pessoa ortónimo. Constituído por três quadras, o poema apresenta um esquema rimático a-b-a-b (cruzado ou alternado): “Há quase um ano não escrevo (a) / Pesada, a meditação (b) / Torna-me alguém que não devo (a) / Interromper na atenção (b)”. Cada verso tem sete sílabas métricas (são, portanto, redondilhas maiores: “Há/ qua/se um/ ano/ não/ es/cre/vo”).
A dor de meditar assombra o poeta em “Há quase um ano não escrevo”. Este processo consciente e cognitivo pesa na mente do sujeito poético e fá-lo deixar de prestar atenção a si próprio, tornando-o alguém que não é. A espontaneidade, com a qual o poeta cria os seus poemas, advém da alma alheada do pensamento, coisa que ele não consegue assumir no momento. A saudade desses tempos de livre arbítrio intelectual surge, incomodando-o. No desfecho, o “eu” poético consciencializa-se do que escreve, sabe que escreve “com os pés assentes na terra” sem divagações ou ascensões ao espaço (“Escrevo sabendo o que digo... / Para quem desce do espaço”).
(Pedro, 12.º 6.ª)

Fernando Pessoa, «Olhando o mar, sonho sem ter de quê» (Fernando Pessoa)
http://arquivopessoa.net/textos/222
[ibisfilme de Ana, 12.º 5.ª]
Este poema é um bom exemplo da estrutura que usava o Ortónimo e dos conteúdos que tratava nos seus poemas. O poema está redigido com uma linguagem simples, espontânea e sóbria. Recorre-se ao uso popular da quadra. Neste poema utiliza-se o paradoxo – “Mas do que há ou não há o mesmo resta.” – e a metáfora – “As árvores longínquas da floresta/ Parecem, por longínquas, estar em festa.” Os versos são leves e socorrem-se da interrogação – “Se tive amores?” e “Colhes rosas?”. Quanto à interpretação do poema, a nível literário, podemos afirmar que o sujeito poético expressa uma inquietação por não conseguir decifrar o enigma do seu ser. O sujeito poético quer encontrar uma resposta para o mistério da sua existência como ser, vivendo numa angústia e solidão interior, devido ao seu ser plural – “Quem ontem fui já hoje em mim não vive.” Resta-lhe, portanto, ir formulando interrogações filosóficas com o objectivo obsessivo de descobrir o que é o ser. No entanto, o eu lírico sente que o mistério é indecifrável e que tudo está para além do muro ou para além da curva da estrada, não podendo nunca ser revelado – “Nada no mar, salvo ser o mar, se vê.” Portanto, como nada se consegue ver, é necessário haver o sonho, de maneira a “curar” o mal que é não ver o que significa o ser – “Mas de se nada ver quanto a alma sonha!” Neste poema, o sujeito poético “agarra-se” com todas as forças ao sonho, de modo a ultrapassar a solidão interior e a inquietação que tem, mesmo que o sonho o afaste da realidade e o impeça de viver a vida como ela é. Assim, quer-se-nos transmitir, através deste poema, que é sonhando que “camuflamos” a nossa inquietação na procura do enigma sobre o ser e que nem tudo o que parece é, sendo difícil discernir a diferença entre o sonho e a realidade e o que eu sou ou o que não sou.
(Luís, 12.º 1.ª)


Fernando Pessoa, «Cai chuva do céu cinzento»
http://arquivopessoa.net/textos/4289
[ibisfilme de Carlos, 12.º 4.ª]
O «eu» poético dos textos de Fernando Pessoa Ortónimo revela-nos uma enorme inconstância enquanto pessoa, à medida que acentua a angústia existencial e que permite uma incapacidade de viver a vida tal como ela é. O poema “Cai chuva do céu cinzento” não é excepção.
Este poema está catalogado como «poesia lírica» e pertence a um enorme conjunto de obras publicadas postumamente. Acentua o interesse e admiração de Pessoa pelo pela obra de Paul Verlaine, um poeta francês cujos textos foram caracterizados como «decadentes».
Neste poema estão presentes apenas algumas das características que definem Fernando Pessoa enquanto ortónimo, como o pendor filosófico («Quero dizer-ma mas peso / O quanto comigo minto») e a fragmentação do «eu» (presente nos versos «porque verdadeiramente / não sei se estou triste ou não»). É-nos transmitida também a ideia de melancolia e solidão, que o sujeito poético sente, ao ver-se rodeado de nada.
(Mafalda, 12.º 5.ª)

Fernando Pessoa, «Quando era jovem, eu a mim dizia»
http://arquivopessoa.net/textos/3889
[ibisfilme de Bruno, 12.º 4.ª]
Este poema de Fernando Pessoa, organizado em apenas uma única estrofe de onze versos, foca, mais uma vez, a incontrolável passagem do tempo.
O poema remete, no início, para uma idade jovem do poeta, em que lamenta não conseguir nenhum grande feito, à medida que os dias passavam. Será de salientar o tom quase nostálgico que esta secção inicial apresenta, transmitindo-nos a sensação de viagem ao passado, em recordação dos tempos perdidos. A ideia de nada ter alcançado contrasta com a saudade que o poeta sente pela sua infância.
A partir do quarto verso, há um avanço temporal, marcado pela expressão “Mais velho”. A mesma desilusão por nada de relevante ter alcançado repete-se numa fase mais adulta. À medida que o tempo consome a vida do poeta, este sente com mais intensidade a frustração e a tristeza de nada ter conseguido.
A partir do sétimo verso, atinge-se o presente e, consequentemente, o fim da introspecção temporal do poeta. Agora, “assim, naturalmente, envelhecido”, o sujeito poético esquece a importância do seu antigo desejo, conformando-se, desistindo, esperando pela morte. O último verso conota negativamente o próprio poeta, afirmando que quem nada conseguiu, nem nada consegue, não tem mérito.
(José, 12.º 4.ª)

Alberto Caeiro, «Dizes-me: tu és mais alguma coisa»
http://arquivopessoa.net/textos/3358
[ibisfilme de Joana G., 12.º 1.ª]
O poeta pergunta se as pedras e as plantas são mais do que isso, se pensam ou se têm sentimentos, se são capazes de escrever fantásticos textos ou ler maravilhosos livros. O escritor também põe em dúvida a sua consciência e o sentido de ser mais do que uma simples planta ou pedra. O sujeito poético afirma que os dois seres referidos existem e, para comprovar essa teoria, utiliza os sentidos humanos, para não se enganar a si próprio. Por fim, compara mais uma vez o ser humano com a Natureza, considerando que a pedra é a pedra, a planta é a planta e ele é ele, assumindo que por isso nem ele nem ninguém têm o conhecimento absoluto.
O poema trata sobretudo da consciência, sendo Caeiro, à sua maneira, inconsciente.
(João M., 12.º 5.ª)