Saturday, September 14, 2013

Pessoa pelo 12.º 6.ª


Seguem-se trabalhos em torno de poemas de Pessoa. As instruções para esta tarefa ficaram aqui.

 

Sofia R.



«Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/391 | Sofia R. (17,5) Misturou-se texto criado com o de Caeiro — a prova de que a redação da autora é boa é não se perceber qual é o texto de Caeiro e o de Sofia. Não há nenhum lapso na leitura e o estilo de expressividade parece-me precisamente o adequado a textos deste heterónimo. Em termos visuais, a estratégia foi a mais simples, mas a imagem revela gosto apurado. Sem culpa de Sofia: no texto de Caeiro há uma série de «aondes» («toco aonde») que não são gramaticais (pelo menos, na norma culta; seria «onde» [vou aonde; estou/toco onde]).

 

Mariana L.



«[O Infante] Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.» (Fernando Pessoa, Mensagem) | http://arquivopessoa.net/textos/2375 | Mariana L. (17,5) Mariana envolveu um poema de Mensagem em texto próprio. Este texto criado pela autora, apesar da sua extensão, não tem erros e consegue cumprir vários objetivos: funciona como elogio de Portugal, mais ou menos na mesma linha do «Infante» pessoano; é uma espécie de publicidade-divulgação turística; e acaba até por ser um cartão de boas-festas. Tudo isto se consegue sem prejuízo da coerência do todo. Em geral, o estilo é alegre, leve (mesmo assim, em vez de «ao D. Afonso Henriques», poria, com mais distância, «a D. Afonso Henriques»). Na leitura, que é também boa, não há nenhum lapso (só do v. 9 para o v. 10, em «português. / Do mar», se esqueceu a pausa a que obriga o ponto), mas a leitura ideal seria ligeiramente mais lenta e enfática, quase teatral.

 


Inês





«A liberdade, sim, a liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349 | Inês (15-15,5) Na leitura em voz alta, a Inês revela boas capacidades, grande destreza, digamos, técnica (não é nada fácil conseguir ler tão rápido quase sem lapsos — notei só duas hesitações). E, no entanto, talvez em termos estratégicos, se devesse adotar outro estilo de leitura, menos uniformemente rápida (para se conseguir imitar a sofreguidão de Campos, precisamos de momentos contrastantes — se tudo for rápido, nada parece rápido). A pronúncia melhor de «cabarets», um galicismo, será «c[a]barets», com á aberto, e não «c[α]barets». As imagens, numa sucessão de curtas justaposições de slides, com um efeito de velocidade trepidante, é uma boa solução (montagem foi da própria autora?), mesmo se algumas das imagens são demasiado meramente ilustrativas.


 


Miguel G.





«Dá-nos a Tua paz» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/808 | Miguel G. (14,5(-15)) Leitura de Miguel quase não tem erros (apenas «À grande mãe pagã» é complemento indireto — não é, como lê o Miguel, «Ah grande mãe pagã») e revela fluência e expressividade aceitáveis, embora talvez num estilo que não seria o pensado por Campos (ou pensado por Pessoa para Campos). Quanto às imagens, provocam uma interpretação humanitária (beato-humanitária) do poema, o que não deixa de ser discutível (o poema é mais complexo, mais angustiado e rebelde, do que preocupado com a pobreza no mundo). Também a música condiciona a perceção do texto, facilitando a tal versão bondoso-panfletária. Houve mérito neste aproveitamento do texto, criando-se assim um novo objeto, que funciona e que o autor soube acabar (mesmo se essa nova função é um pouco abusiva).


 


Carolina





«[XLVIII] Da mais alta janela da minha casa» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1112 | Carolina (17) A leitura do texto de Caeiro não tem lapsos, é uma boa leitura, mas talvez devesse ser mais coloquial, para estar dentro do espírito deste heterónimo (menos declamatória, mais plástica, para imitar o estilo desprendido, pacífico, de Caeiro). Quer o genérico inicial, quer as imagens que acompanham o poema, e ainda o genérico final, criam um padrão, aliás criativo e com bom gosto, que é quebrado com os slides néticos (Pessoa, livros) que aparecem a seguir aos dois minutos iniciais. Teria sido melhor solução manter os placards com dizeres, aproveitando, como se tinha feito até aí, para incorporar pequenos desenhos ou até memórias fotográficas da infância da autora. Boa ideia a de recuperar poema próprio (embora a introdução a esse texto me parecesse demasiado institucional). E, repetindo-me, creio que, se se tivesse mantido a estilização gráfica, se esbateria certa sensação de fronteira entre os dois momentos do filme.


 


Mariana O.





«Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/2457 | Mariana O. (17(-17,5)) Excelente leitura em voz alta, quer do poema de Pessoa quer do texto escrito pela própria Mariana. Todo o trabalho resulta num objeto agradável e alegre (para o que concorre a música, o ritmo das imagens — embora, salvo erro, as imagens sejam universais e até talvez estivessem, em parte, já montadas), revelando boa intuição artística e, mais especificamente, sensibilidade para um género próximo do da publicidade/clip musical. Também é aspeto positivo o haver bastante texto redigido pela autora, mesmo se com naturais lugares comuns (e um erro: não é a vida que neles habitam» (mas «habita» — sujeito é «a vida»). Também nas legendas do texto de Pessoa escapou um lapso: «concede» é com cê.


 


Catarina





«Chove muito, chove excessivamente...» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1028 | Catarina (17-16,5) A Catarina foi intercalando texto seu no do poema de Campos e o resultado é muito interessante. A leitura foi boa, ou muito boa, não tendo eu detetado erros (há uma hesitação apenas em «como se de outra pessoa se tratasse»). Quanto aos aspetos visuais, o formato adotado foi o mais simples, uma imagem fixa, mas essa imagem foi bem escolhida (é, ao mesmo tempo, ilustrativa e quase abstrata); também o som da chuva funciona bem. Trata-se de trabalho feito com cuidado, com gosto, bem acabado.

 

Filipa



«Deixei de ser aquele que esperava» (Fernando Pessoa); «Começo a conhecer-me Não existo» (Álvaro de Campos); «Se penso mais que um momento» (Fernando Pessoa); «Há quase um ano não escrevo» (Fernando Pessoa); «Olhando o mar, sonho sem ter de quê» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/844; http://arquivopessoa.net/textos/2438; http://arquivopessoa.net/textos/2502; http://arquivopessoa.net/textos/2329 | http://arquivopessoa.net/textos/222 | Filipa (14-14,5) A Filipa fez uma composição com trechos de vários textos de Pessoa (ou de Pessoa e de Campos — «Começo a conhecer-me» é de Campos, ao contrário do que se vê no slide). Os textos foram bem lidos, sem erros, embora se possa dizer que sem grande risco na expressividade (admito que parte deles pudesse implicar mais «nervo»). A crítica que se pode fazer é aliás a de que podia ter havido mais ambição (a própria extensão do conjunto é pequena, 1.40), mais criação original.

 

Rita



«[Last poem] É talvez o último dia da minha vida» | http://arquivopessoa.net/textos/2589 | Rita (16) A Rita escreveu texto seu, longo e quase sem erros (os que anotei foram estes: «que julgava já me ter livrado», que seria «de que julgava já me ter livrado»; «donde as minhas costas já se queixavam», que era «de que as minhas costas já se queixavam»; e, em vez de «outro alguém», poderia ficar «outrem»; «virar louca» poderia ficar «tornar-me louca»; «mandei-me para o chão», «deitei-me no chão» ou «deixei-me cair»; «relembrei», «recordei» ou «lembrei). Pode dizer-se que a linguagem não é assim tão diferente da do quotidiano (é uma linguagem entre a literária e o discurso passional corrente), o que limita o mérito da redação (que há, ainda assim). A quadra de Caeiro funciona como epígrafe, pequeno pretexto do resto, mas é talvez pouco Pessoa para o que se pedia. Boa leitura (notei só este lapso: «parecia uma roda viva à minhá volta»), por vezes bastante expressiva, mesmo se a recolha de som não é sempre perfeita.

 


Francisca





«Todas as cartas de amor são» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/2492 | Francisca (16-15,5) A própria Francisca pediu autorização para fazer o trabalho em torno de texto já lido em aula, o que lhe foi consentido (e, portanto, não é recriminável). Mas mantém-se um inconveniente: o poema é talvez demasiado curto para o que se pretendia (trabalho fica com apenas um minuto). Leitura em voz alta tem boa expressividade, apesar de dois lapsos (nasalação em «em meu[n] tempo»; e um «cart[i]as de amor» — ambos assimilações de soins vizinhos). No seu todo, o trabalho revela-se um objeto bem acabado e agradável de seguir. Salientarei ainda a música e as participações especiais de vários colegas da turma.


 


Gonçalo





«[XLVI] Deste modo ou daquele modo» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1104 | Gonçalo (14(-14,5)) É um trabalho, por assim dizer, limpo, embora pouco ambicioso (é só a leitura do texto de Caeiro, acompanhada de slide-capa, portanto, a solução mínima). Leitura não tem falhas (é discutível se deveria ser «arg[o]nauta» com ô ou ó, ou, como lê Gonçalo, «arg[u]nauta»). O tom parece pertinente para Caeiro, embora, a partir de certa altura, fosse aconselhável incluir momentos de maior coloquialidade (a fim de que a abordagem calma, neutra, não se confunda com estilo monocórdico).


 


Pedro S.





«Se te queres matar, porque não te queres matar?» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/4360 | Pedro S. (16) Boa leitura, sem erros, de um texto extenso e difícil. (Eu diria «rem[ô]rso» — e não «rem[ó]rso», a não ser no plural, é claro. E, em vez de «cin[ê]matografia», diria «cin[’]matografia» com e mudo. Na edição que sigo está «da tua vida falada», e não «da sua vida falada».) Também gosto da imagem escolhida. Em apreciação geral, direi que o trabalho está feito competentemente mas o Pedro conseguiria — tinha obrigação de — ser mais criativo.


 


Daniel





«Quando eu não te tinha» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/629 | Daniel (12-11) Não encontro erros concretos na leitura de Daniel, o que é aspeto positivo. No entanto, há algumas hesitações (sobretudo no final) e o texto é até bastante curto (demasiado curto, segundo o que lhes pedira). Tenha-se ainda em conta que «Quando eu não te tinha» não é título (é primeiro verso, que, à falta de titulo, é usado nas referências ao texto).


 


Salomé



«Aqui está-se sossegado» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/3619 | Salomé (17,5(-18)) Excelente leitura de Salomé, sem erros e sempre com boas entoações. É claro que é discutível se o estilo de expressividade indicado para o texto era mesmo este. Talvez. De qualquer modo, não se trata de poema que implicasse grandes dificuldades, nem mesmo em termos de extensão. A música contribui para que se trate de filme agradável de seguir, concebido com eficiência e critério estético.

 

Miguel T.



«Deito-me ao comprido na erva» (Alberto Caeiro); «O meu tédio não dorme» (Fernando Pessoa); «Não estou pensando em nada» (Álvaro de Campos); «[Nirvana] Vou dormir, dormir, dormir» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/379; http://arquivopessoa.net/textos/2558; http://arquivopessoa.net/textos/2484; http://arquivopessoa.net/textos/2033 | Miguel T. (18(-18,5)) Miguel preferiu um formato mais original, em que a expressão oral surge de dois modos: em representação de texto próprio (encenação de conversa espontânea) e na leitura de dois poemas (incorporada na própria encenação que os introduz). Ambos esses orais têm o mérito de percorrer a matéria toda (alude-se aos três heterónimos e ao ortónimo; leem-se poemas de cada um dos quatro). O texto da parte encenada consegue o objetivo de introduzir a leitura dos poemas, em tom leve (mais para sorrir do que para rir) e está bem representado (a qualidade de texto e representação são aqui dissociáveis). A leitura dos poemas não tem erros, embora, quase obrigatoriamente, tivesse de ser uma leitura com a expressividade condicionada (o contexto é o de alguém que representa uma leitura desprendida, a de quem está ao mesmo tempo a conversar e, portanto, não declama com empenho integral). Ainda assim, vê-se que o autor intui bem os estilos apropriados a cada um dos poetas.

 

João Almendra



«Num dia excessivamente nítido» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1108 | João Almendra (14,5(-15)) O João escolheu rechear com texto seu (antes e depois) um poema de Alberto Caeiro. Não há lapsos na leitura em voz alta do poema (que foi lido com boa expressividade). Na parte do texto próprio, parece ouvir-se «outro e verdadeira» em vez de «outra e verdadeira»; e há ligeira nasalação em «e[n]ssencialmente». Não se percebe, cerca de 1.25, «Na negação [?]». A redação está geralmente boa (tirava o «e não indireto», por estas explicações adicionais serem pouco poéticas; e, em vez de «porque a não fui achar, achei», tinha mais lógica «porque a não procurei, achei»). Trabalho simples, mas bem feito.

 

Karim



«A liberdade, sim, a liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349 | Karim (14(-13,5)) Boa leitura, sem erros, mas que talvez devesse ter alguns momentos com mais nervo, mas à Campos (no final, parece-nos mais um Caeiro, pacífico e calmo, do que o intermitente e entusiástico Campos). Ligeira pausa indevida em «pensamento são» («são» está a adjetivar «pensamento», é o modificador restritivo); «apeadeiro» e «às coisas naturais» saíram demasiado rápidos. Trabalho pouco ambicioso, tendo em conta o que Karim seria capaz de fazer.

 

João F.



«Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/1012 | João F. (14-13,5) Leitura de João não foi muito à Campos (pareceu-me demasiado adormecida, quando se esperava um estilo quase torrencial, com inflexões, mudanças de ritmo). E há uns erros localizados: «Syringe» não é para ser pronunciado à inglesa (vem do grego — aqui é uma ninfa, tornada flauta de Pã); «sossego» tem de ser dito com é aberto («soss[ε]go»), já que se trata da 1.ª pessoa do presente do indicativo de «sossegar». Certas marcações com (...) no texto do Arquivo Pessoa significam que há zonas do texto que não foram decifradas (ou que Pessoa deixou por preencher). Discordo da associação deste texto a um quase panfleto turístico (que é o filme escolhido, reforçado aliás pela canção de Amália). Enfim, João costuma ser mais original.

 

Lara



«[Poema de canção sobre a esperança] Dá-me lírios, lírios» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3425 | Lara (14,5) A leitura de Lara não teve erros concretos, a não ser o que explico a seguir. É uma leitura boa, embora sem a expressividade possível. O texto é longo e difícil, mas, salvo erro, a gravação foi feita em parcelas (três momentos), o que reduz o grau de dificuldade. «Porque amámos» (Perfeito do indicativo) foi lido como «Porque amamos» (Presente do indicativo, ou, para nortenhos, Perfeito também). Bom slide e bom genérico final, mas poderia haver outros elementos criativos.

 

Mariana C.



«Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada»;  «Tenho escrito mais versos que verdade» (Álvaro de Campos); «Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/912, http://arquivopessoa.net/textos/3356 e http://arquivopessoa.net/textos/524 | Mariana C. (17,5) Mariana escreveu texto próprio a ligar três poemas de Pessoa (aliás, de Campos e de Reis). Essas ligações estão bem escritas (só «deixaste-me apanhada» parece pouco literário, mesmo tendo em conta que os acrescentos aos poemas estão sempre num registo coloquial, contemporâneo). Também a leitura está sempre correta e num estilo de expressividade que torna o todo coerente (mesmo se, também por causa disso, não demasiado específica de cada texto). Em «Ou um [...] assustado e mudo», as reticências dentro de parênteses retos significam que não foi possível decifrar aquela palavra (ou que o poeta deixou o texto lacunar). O aspeto mais melhorável do filme são as imagens (não teria sido difícil, mantendo até o traço um pouco fotonovelesco das imagens, fazer recolha própria, estabelecendo uma narrativa subliminar, por mera alusão em uma dezena de fotografias, mais ou menos ingénuas-românticas).

 

Tiago



«[XLVI] Deste modo ou daquele modo» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/1104 | Tiago (17,5) Tiago escreveu texto — intercalou texto seu, um bom texto, entre versos do de Caeiro. Em vez de «por muito que momentânea seja a felicidade», poderia ficar «por muito momentânea que seja a felicidade». A legenda do slide inicial está pouco cuidadosa (pôr aspas em «O Guardador de Rebanhos»). A leitura em voz alta não tem erros e tem boa expressividade (embora se deva dizer que a expressividade de Caeiro não é muito difícil). Dentro da sua simplicidade, boa solução de imagem (com legendas).

 

Marta



«Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/1448 | Marta (14(-13,5)) Leitura de Marta quase não tem lapsos (só «envolto» seria «env[ô]lto», em vez do ó aberto que se ouve; e, em «uma morte que seja / uma coisa que me não rale», apesar de haver mudança de verso, não se pode fazer pausa). Também as entoações são bem cumpridas, embora a expressividade seja prejudicada por se usar um tom demasiado enfático (por assim dizer, mais declamado para uma plateia do que murmurado para gravação), o que retira alguma naturalidade. Imagem escolhida não é especialmente original.

 

Sofia A.



«Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras» (Álvaro de Campos) http://arquivopessoa.net/textos/1012 | Sofia A. (14-14,5) Sofia fez uma boa leitura (embora não talvez com a expressividade máxima que atribuímos aos textos de Campos). Só há um erro (em «cumes»), e, quase no final, nota-se certa hesitação em «mais do que as outras». Já agora, explico certos sinais no texto: partes marcadas com «(...)» significam que não foi possível decifrar o segmento em causa (ou que o poeta o deixou mesmo por preencher).

 

Pedro F.



«Uma vontade física de comer o Universo» (Álvaro de Campos); «Cantos, risos e flores alumiem» (Ricardo Reis) | http://arquivopessoa.net/textos/2861 e http://arquivopessoa.net/textos/1854Pedro F. (14,5(-15)) Inovador, embora talvez um pouco contra o que eu pedia nas instruções, o processo de incluir legendas «ensaísticas» (isto é, com abordagem analítica do poema). Também revela certo sentido pedagógico, de arrumação, o jogo de separadores e o som. A leitura não tem erros (só «remorso» ficou entre «rem[ô]rso», como deve ser, e «rem[ó]rso»), tem expressividade aceitável, mas está, por vezes, demasiado presa à pontuação gráfica (por exemplo: em «Para os lugares que — custa a crer — realmente existem», o segmento intercalado não precisa de tanta pausa; os travessões aqui são mais obrigação de regra sintática do que referência para a reprodução oral). A leitura da curta ode de Reis pareceu-me apressada.

 

Duarte



«Voam gaivotas rente ao chão» (Fernando Pessoa) | http://gavetadenuvens.blogspot.pt/2009/09/10.html, texto n.º 60 | Duarte (13) Duarte trabalhou com um texto de 1934, que não figura no acervo do site Arquivo Pessoa (por ser de edição mais recente do que as da Ática). É de uma edição organizada por mim (Poemas de Fernando Pessoa, 1934-1935, edição de Luís Prista, Lisboa, INCM, 2000). Deu-se aqui uma pequena confusão de que o Duarte não é responsável: as versões dos poemas dessa edição que pus no blogue foram ainda revistas em provas (embora em poucos casos). A versão que eu tinha no computador e que pus no blogue é anterior, portanto, a essas pequenas alterações. Por grande azar, o poema «Voam gaivotas rente a chão» teve uma alteração (no livro, acabou por ficar só com cinco quintilhas, porque considerei que uma sexta estrofe que está no autógrafo seria apenas uma primeira tentativa da estrofe definitiva). Assim, embora sem culpa, Duarte leu uma quinta e sexta quintilhas bastante idênticas, quando, se estivesse a ler pelo livro publicado, já só teria visto a sexta quintilha que leu (= a vera quinta quintilha). O engraçado é que eu — já não me lembrando destas peripécias de edição — julgava que o Duarte tinha criado a tal estrofe depois suprimida (e, num primeiro momento, até ficara entusiasmado com o estilo tão pessoano que ele revelava). Infelizmente, não foi o Duarte que foi criativo, fui eu que não revi os textos que lhes forneci. E, no entanto, creio que era possível ter-se feito trabalho mais empenhado (era uma ideia esta: escrever estrofes que se inserissem em poemas de Pessoa). Na leitura ainda houve dois erros de pronúncia («ébrio» deve ler-se com é aberto: «[ε]brio»; em «resquício» o U não se diz: «res[k]ício»). A leitura, aliás, não me pareceu muito ensaiada. As imagens usam, em parte, estratégia que lhes pedi que evitassem: ir pondo slides a tentar ilustrar os trechos que se vão ouvindo.

 


Maria





«[Mar. Manhã] Suavemente grande avança» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/4304 | Maria (13) Trabalho simples, o que pode ser uma vantagem (embora prefirisse que tivesse havido maior investimento nesta tarefa). A leitura não tem lapsos sérios. Apenas em «em serenas / dobras», apesar da mudança de verso, não se pode fazer pausa, já que «serenas» é o modificador restritivo de «dobras». Além disso, o último dístico do poema — que é um pouco mais difícil, já que parece ter aliterações — foi lido com excessiva lentidão. O texto é demasiado curto (não havendo texto próprio e não se tendo apostado em recolha de imagens, esperava-se maior risco na leitura em voz alta).


 



Sol





«A liberdade, sim, a liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349 | Sol (15(-14,5)) Deve reconhecer-se que a Sol tentou imitar a sofreguidão, a velocidade, a ânsia, o entusiasmo angustiado, de Álvaro de Campos (e fez bem em alernar diversos estilos e entoações). É verdade também que a gestão dessa expressividade não foi sempre perfeita (não ficando, portanto, isenta de pequenas hesitações, mas sem que haja erros). Considero algumas das imagens bem escolhidas (as mais abstratas), torço um pouco o nariz às quase ilustrativas do texto. De qualquer modo, o trabalho resulta num objeto simples mas coerente.


 


André





«Olhando o mar, sonho sem ter de quê» (Fernando Pessoa) | http://arquivopessoa.net/textos/222 | André (9) Embora só haja um erro direto («erramos» — Presente — é pronunciado como «errámos» — Perfeito), toda a leitura saiu muito tateante, parecendo precisar de ser muitíssimo mais ensaiada. Deveria haver mais aplicação, mais demora.


 


Aurélio





«A liberdade, sim, a liberdade!» (Álvaro de Campos) | http://arquivopessoa.net/textos/3349 | Aurélio (16,5) Aurélio revela ter bom domínio das técnicas de vídeo, bem como noção de como se traduz em filme uma quase-narrativa (um poema, no caso, mas que, pelas imagens e montagem, passa a funcionar como pequeno episódio; a presença do próprio autor enquanto personagem-figurante unifica esse pequeno enredo). Música, porque viva, alegre e apressada, também concorre para o ritmo que se imprimiu ao texto e é ela que, em grande parte, dá um ar de coerência à conclusão. Na leitura em voz alta, há alguns bons momentos de expressividade, também há algumas falhas, mesmo lapsos, e hesitações, mas percebe-se que houve bastante ensaio.


 



Francisco





«Falaram-me os homens em humanidade» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/384 | Francisco (16) Há desde logo o mérito de se ter tentado um formato diferente. Fica também a sensação de que o Francisco teve gosto na realização da tarefa e que procurou — e conseguiu — fazer trabalho criativo. Texto cómico não é sempre extraordinariamente original, mas é bem representado, o que faz que resulte. Também está boa a leitura do curto poema (demasiado curto, talvez). Bom genérico inicial. (Referência ao ópio teria de aludir sobretudo a Campos, não a Reis.)


 




Ana





«[XXXIX] O mistério das coisas, onde está ele?» (Alberto Caeiro) | http://arquivopessoa.net/textos/3452 | Ana (12) Tenho de criticar certas falhas no cumprimento das instruções do trabalho (por um lado, o texto escolhido está no manual; por outro, o prazo de entrega foi ultrapassado); estes aspetos refletem-se na classificação, é claro. Entretanto, tenho de elogiar a abordagem simples (caeiriana), o bom gosto da solução, a música (tocada pela autora, decerto). Também gostei de quase toda a leitura (a exceção é o último terceto, com arranque um pouco atrapalhado).


 


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