Thursday, September 10, 2015

Análise de Frei Luís de Sousa e Canções pelo 11.º 5.ª



Cat [Muito Bom - {tal como as notas seguintes, esta apreciação diz respeito sobretudo à primeira versão do texto, embora tenha tentado também vigiar a revisão havida}]
Se a peça fosse um musical, Madalena seria a personagem conhecida por interpretar “O Sopro do Coração” dos Clã. Talvez isso se sinta quando Madalena tanto se queixa e suplica a Manuel de Sousa Coutinho que “para aquela casa não”. A casa de que fala pertence ao seu primeiro marido, D. João de Portugal, dado como desaparecido em Alcácer Quibir.
Ao longo da peça, mas mais obviamente ainda na cena VIII do primeiro ato, Madalena vive com um medo constante do regresso de D. João, com medo de que a presença da “sombra despeitosa de D. João” se vá atravessar entre Madalena, Manuel e Maria, a filha de ambos. Não só vive com esse medo como está certa de que será infeliz e que não aguentará sequer três horas na casa onde foi “a mulher de D. João” e “sem que todas as calamidades do mundo” caiam sobre eles.
O tema musical escolhido é interpretado por uma mulher, Manuela Azevedo. Imagino que a voz dela corresponda aos vários sentimentos que Madalena vai manifestando em diálogo com Manuel ou mesmo em monólogo. Por vezes esses sentimentos surgem desordenados. Madalena está angustiada, sente medo perante a hipótese de regresso do seu primeiro marido. Esse regresso significa para ela a impossibilidade de continuar a viver o amor com Manuel. O que sente parece, por vezes, um remoinho que a pode afogar mas que nos revela, sobretudo, a força com que ama a sua vida presente. Com a mesma força, deseja que o passado não volte, pedindo “não me leves para aquela casa”.
A voz que canta, tal como a parte instrumental que a envolve, transmite que o “vento sopra doido / E o que foi do corpo num turbilhão / Sopra doido / E  o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão / Nisto já nem de ar precisas / Só meras brisas raras”. Vejo Madalena neste refrão, na intensidade da voz e quase em cada um dos instrumentos. Também a vejo quando a filha, Maria, descreve a Telmo, seu escudeiro, a reação da mãe ao deparar-se com o retrato de D. João (“Minha mãe, que me trazia pela mão, põe de repente os olhos nele e dá um grito. Oh, meu Deus!... ficou tão perdida de susto, ou não sei de quê, que me ia caindo em cima”).
Diz-se na canção que “o amor é vão / É certo e sabido / Mas então (porque não)porque sopra ao ouvido / O sopro do coração / Se o amor é vão / Mera dor / Mero gozo / Sorvedouro caprichoso”. A letra sozinha é vaga. Ganha sentido com a melodia e, sobretudo, no timbre e na entoação que a intérprete dá à voz. Há uma agitação nestas palavras que é sempre acompanhada por força, alguma tensão e, principalmente, por qualquer coisa que deve ser grande. O amor.

Susana [Bom (-)]
A grande semelhança encontrada entre a pessoa melancólica e intrigante descrita por Toranja na sua canção “Laços”, do álbum Segundo, e a personagem Madalena de Vilhena, em Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, levou-me a escolher este tema musical.
Como é visível à medida que se vai folheando as páginas de Frei Luís de Sousa, Madalena é uma personagem inconformada («estes contínuos terrores, que ainda não me deixam gozar um só momento de toda a imensa felicidade») e desgostosa («que desgraça a minha!»). Esta personagem vive numa inquietação devido à intrigante morte do seu primeiro marido, D. João de Portugal, na Batalha de Alcácer Quibir, morte com que o aio Telmo, «amigo velho e provado», não se conforma, tentando persuadir Madalena dessa mesma ideia (“Se queres vir amanhã / Acreditar no mesmo deus”). Devido a essa grande dedicação que Telmo demonstra perante o seu antigo amo, «espelho de cavalaria e gentileza», Madalena vive no remorso de ter tido uma filha com Manuel de Sousa, fruto do seu amor com outro homem, que, como refere, «começou com um crime, porque eu amei-o desde assim que o vi…». Vive, assim, presa no passado (“Tens fios de mais / A prender-te as cordas”), não se permitindo ser feliz.
A certo ponto da intriga, Manuel de Sousa e a sua família abandonam a residência dos Coutinhos, e instalam-se, apesar da resistência de Madalena, no palácio que esta outrora partilhara com D. João de Portugal («para aquela casa não, não me leves para aquela casa!»). Ao instalarem-se no novo velho palácio, Madalena não reage bem ao drástico contacto com as suas antigas memórias e desespera com o impacto que estas têm na imagem da nova família perfeita que, com tanta dedicação, criou («Tens riscos de mais / A estragar-me o quadro»), isolando-se em lágrimas no seu quarto.
No fundo, por mais que Madalena faça para se desemaranhar do seu passado, este mantém-se preso a ela («Andamos em voltas retas / Na mesma esfera»), acompanhando-a sempre.
Madalena consegue finalmente compor-se («Estou boa, já não tenho nada»), mas apanha outro desgosto com a súbita partida de Manuel e de Maria para Lisboa. Com esta partida, um clima de tragédia envolve a história, e é percetível que infortúnios se aproximam.
Entra uma nova personagem no enredo, um romeiro, ‘’pobre velho peregrino”. Este, para além da sua inesperada chegada, traz consigo informações avassaladoras para a família Coutinho, informações que, num instante, alteram vinte e um anos de alegrias e expetativas, durante que foi envelhecendo o primeiro marido de Madalena (“A chuva no chão revela / Os olhos por trás”).
A notícia da sobrevivência de D. João de Portugal à batalha desperta o pânico em Madalena, que, lentamente, observa os sonhos de um futuro promissor a serem desmantelados em desonra (“Há que levar o restolho / Do que o tempo queimou”).
Mais uma vez, Madalena é consumida pela desgraça («Deus tenha misericórdia de mim»), arrastando para ela Manuel de Sousa e Maria, em que um futuro de vergonha é subitamente traçado («Desgraçada filha, (…) que tudo perdeste hoje»).
A tragédia envolve Madalena, e esta vê o homem dono do futuro aconchegante que viveu a transfigurá-lo num embaraço e transtorno de que não se consegue salvar (“Devolve-me os laços”).

Beatriz [Bom (-)]
Numa busca, que foi demorada, por uma música que fizesse justiça ao drama de Almeida Garrett, deparei-me com uma dificuldade que não pensara fosse acontecer, a escolha de uma canção. Sempre tive bastante facilidade em escolher músicas, dado que ouvi-las é umas das coisas que mais gosto de fazer. No entanto, desta vez, foi difícil encontrar uma que me satisfizesse por completo. Apesar de, inicialmente, ter tido preferência por música portuguesa, acabei por escolher uma canção estrangeira pois considerei que “Pretending” se enquadraria melhor no trabalho. Optei por um original de uma das minhas séries preferidas, “Glee”, que julgo poder relacionar, em diversos aspectos, com Frei Luís de Sousa.
“Face to face and heart to heart / We’re so close yet so far apart” (Cara a cara e coração a coração / Nós estamos tão perto e, ainda assim, tão longe) cantam Finn e Rachel, as personagens principais de Glee, que ilustram perfeitamente a situação de Madalena e Manuel no Terceiro Ato, na cena VII, depois da chegada imprevisível de “Ninguém”, que impede a continuação da união de Madalena e Manuel, que durava há catorze anos. Esta união, e a continuação do amor, apresenta-se impossível, visto que, afinal, o primeiro marido de Madalena não morrera na batalha de Alcácer Quibir: “Crê-me, que to juro na presença de Deus: a nossa união, o nosso amor é impossível.“
Porém, Madalena não estava assim tão convencida de que o seu amor por Manuel Sousa Coutinho fosse impossível e Adam Anders, Peer Astrom e Shelly Peiken, quase que como se estivessem a ler os pensamentos de Madalena, escrevem “Wondering if we still belong” (Pergunto-me se ainda pertencemos um ao outro). Ao encher-se de dúvidas sobre a sua relação com Manuel, pede conselhos a Jorge, o cunhado, que, como sempre, se mostrou disponível para a apoiar, mas sem nunca se esquecer de Deus e dos Seus mistérios (“Jorge, meu irmão, meu bom Jorge, vós, que sois tão prudente e reflectido, não dais nenhum peso às minhas dúvidas?”), e Jorge responde-lhe que “[a] resolução que tomámos é a única possível; e já não há que voltar atrás.”
“Will we ever have a happy ending?” (Iremos um dia ter um final feliz?): também Maria, ao aperceber-se de que os pais iam morrer, lhes implora que mintam para que possam ter um final feliz (“Nunca mentiste?... Pois mente agora para salvar a honra da tua filha, para que não lhe tirem o nome de seu pai”). Contudo, os pais não fazem o que lhes pede e, ao ouvir a voz do romeiro, Maria acaba por falecer.
“I close my eyes, I look away/ That’s just because I’m not okay” (Eu fecho os meus olhos, eu olho para longe/ Isso é só porque eu não estou bem) foi a atitude do Romeiro, pois ele não queria que algo assim tão fatídico acontecesse e estava disposto a deixar Madalena e Manuel continuarem juntos; mas, infelizmente, foi tarde de mais: “Basta: vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor, que desapareceu, que ninguém mais houve novas dele; que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos de… dos inimigos desse homem que ela ama… E que sossegue, que seja feliz.”

Mónica [Bom (-)]
Frei Luís de Sousa, drama de Almeida Garrett, pode ser facilmente comparado com a música “Eu estou aqui”, dos Anjos, do álbum Vingança, lançado em 2007, com as músicas da banda sonora de uma novela portuguesa com o mesmo nome, na medida em que se enquadra particularmente na relação entre o Romeiro (D. João de Portugal) e Madalena de Vilhena.
D. João de Portugal foi dado como morto, passados sete anos do dia em que desapareceu na batalha de Alcácer Quibir (“Sou uma noite nunca apagada”), mas, na verdade, nem todos acreditavam nisso: Telmo vivia na esperança de que o seu amo estimado voltasse como aliás ele tinha referido numa carta entregue a Frei Jorge (“uma história inacabada”) e Madalena tentava não acreditar no que Telmo dizia, embora todos esses agouros a deixassem confusa e assustada (“Valha-me Deus, Telmo! Conheço que desarrazoais; e contudo as vossas palavras metem-me medo… Não me façais mais desgraçada”).
Madalena vivia assombrada pela ideia deste regresso e pelo medo de voltar a encontrar D. João (“Eu sou aquele que vive aceso no teu mundo / Eu sou aquele que te persegue num sono profundo”), ideia cada vez mais aterradora quando, depois da casa de seu marido Manuel de Sousa Coutinho ter sido incendiada, a única opção era mudarem-se para o palácio onde tinha vivido com o seu antigo marido: “Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa”.
Quando o Romeiro aparece, naquela sexta-feira fatídica, percebe que tudo mudara (“A minha família… Já não tenho família”) e que, tal como a canção refere, a sua vida deixara de ter sentido (“Eu já fui tudo e agora não sou nada”). D. João de Portugal, apesar de esse sentimento não ser recíproco, amava Madalena (“Que como eu ninguém te amou”) e terá sido por esse motivo (“um homem que muito bem lhe quis”) que, depois de vinte anos de cativeiro, voltou.
Também o título da música, “Eu estou aqui”, reflete toda a situação do regresso de D. João, que, apesar de isso parecer impossível para a maior parte das pessoas, ressurgiu (como Romeiro), falou com Madalena e conseguiu causar o pânico apenas com a sua presença (“Meu Deus, meu Deus! Que se não abre a terra debaixo de meus pés… Que não caem estas paredes, que me não sepultam já aqui?...”). Para além disso, mesmo desaparecido estivera sempre presente na memória daqueles que o conheciam (“Sou o passado recordado”).
Assim sendo, o regresso do cavaleiro era bastante contraditório e controverso (“Serei um sonho, um pesadelo”), tendo Telmo uma perspetiva oposta à de Madalena. No entanto, D. João acaba por aparecer, confirmando todos os presságios de desgraça e destruindo a família, sobre que se abate a tragédia. E o final está traçado pelo destino, é trágico.

Afonso [Suf+/Bom-]
Tal como em Frei Luís de Sousa o título Yellow Ledbetter (“Carta Amarela”) remete para as cartas enviadas às famílias dos soldados que eram mortos em combate. Almeida Garrett baseia-se na morte de D. João de Portugal e na forma como esse acontecimento deixa D. Madalena desamparada (“Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva, órfã e sem ninguém... sem ninguém, e numa idade... com dezassete anos!” _ Ato I, Cena II), já Eddie Vedder inspira-se na história de um adolescente que perde o irmão que fora destacado para a guerra do Golfo e a forma invulgar através da qual este lida com o assunto.
Nos versos iniciais — “Once, I saw him on a beach of weathered sand / And on the sand I wanna leave him again / On a weekend I wanna wish it all away” (“Uma vez, eu vi-o numa praia de areias castanhas/ E na areia, eu quero deixá-lo / E num fim de semana, eu desejo que tudo se vá)” _ novamente é impossível ignorar as semelhanças com a obra, pois, após o desaparecimento de D. João de Portugal, também D. Madalena entra num período de negação e, por muito tempo, não consegue “deixá-lo partir”, até que chega a um ponto em que essa crença, de que seu marido voltaria, se torna insustentável (“Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia, por todas as sejanas de Fez e Marrocos, por todos quantos aduares de Alarves aí houve...” — Ato I, Cena II) e D. Madalena segue com a sua vida, casando com Manuel de Sousa Coutinho. Desse casamento nasceu Maria.
Continuando a analisar a letra, encontramos um verso que descreve a forma como o adolescente a quem Pearl Jam dá vida se sente. Este verso — “And I know, and I know I don’t want to stay / Make me cry” (“E eu sei, e eu sei que eu não quero ficar / Faz me chorar”) — corresponde também ao sentimento de desconforto que tem D. Madalena por ter de voltar a habitar a casa que outrora tinha partilhado com D. João de Portugal (”Mas, oh! esposo da minha alma... para aquela casa não, não me leves para aquela casa.”).
E, finalmente, os versos “I see him, oh I don’t know why there’s something else / I wanna drum it all away” (“Eu vejo-o, oh eu não sei por que há algo mais / Eu quero-me livrar de tudo”) concluem a verdadeira razão da angústia em que D. Madalena vive constantemente, o medo de que o seu primeiro marido não esteja realmente morto, de que as profecias de Telmo se venham a realizar e de que o seu casamento com Manuel de Sousa Coutinho seja ilegítimo.

Cláudia [Bom (-)]
Para este trabalho de Português, decidi escolher uma música dos One Republic, “Secrets”. Não foi a minha primeira escolha, mas foi a mais acertada de todas. Quando olhamos para o título, existe uma sensação estranha de adaptação à obra Frei Luís de Sousa (“Secrets [Segredos]”).
Este tema adequa-se a vários pares desta obra, o que me deixou um pouco atrapalhada qunanto a qual deles escolheria. Lembrei-me da rotineira história entre D. João de Portugal e D. Madalena. Aquela história de amor incandescente, cuja chama se apagara há anos. Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena faziam de par mais acertado, mas, com um romance quase perfeito, tornara-se difícil pegar em qualquer ponta solta. Lembrei-me então de um par pouco usado: o Senhor Telmo Pais e a nossa D. Maria de Noronha.
No ínicio da cena III do primeiro ato, entra em cena D. Maria de Noronha, que, como sabemos, tem uma relação muito próxima com Telmo (“Que é do romance que me prometeste? Não é o da batalha, (…), é o outro, é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião”), o que nos lembra os versos “I need another story / Something to get out my chest / My life gets kind of boring [Preciso de outra história / Algo que me saia do peito / A minha vida está entediante]”. Maria entusiasmava-se com cada história que Telmo lhe contava, o que não satisfazia a sua mãe, D. Madalena, que queria proteger a sua querida filha a todo o custo (“que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são tão pouco para a tua idade!”). Ao ser influenciada pelo caráter frágil da mãe, Maria tende a mudar de opinião acerca daquilo que quer realmente (“não quero mais falar, nem ouvir falar de tal batalha, nem de tais histórias, nem de coisa nenhuma dessas.”), o que nos permite citar “Don’t need another perfect lie / I’m gonna give all my secrets away [Não preciso de outra mentira perfeita / Estou me a desfazer de todos os meus segredos]”. Destas últimas citações da música, podemos aferir que uma “ mentira perfeita” é dirigida diretamente a uma “história perfeita”, e o facto de se “desfazer dos seus segredos” exemplifica a situação de nunca mais querer pensar naquelas histórias que Telmo lhe contava.
Acontece que Telmo era o velho aio da família, e nunca, de maneira nenhuma, quereria desrespeitar Maria: “E é assim, não se fala mais nisso, e eu vou embora.”. Esta fala exemplifica a dedicação e o carinho que tinha por Maria. De certo modo, Telmo pedia inconscientemente “Just don’t let me disappear [Não me deixes desaparecer]”, não deixes de reparar em mim, porque, decididamente, a relação entre Telmo e Maria é a relação mais carinhosa da história (“So I’m gonna give all my secrets away [Vou dar todos os meus desejos]”), porque, apesar de tudo, Telmo dava-lhe carinho como se fosse sua filha.

Tety [Bom (-)]
A peça de Almeida Garrett que estamos a estudar, Frei Luís de Sousa, tem um clima sombrio e dramático, prevendo-se um desfecho trágico, a exemplo do que acontece na tragédia clássica. A canção de Sam Smith, “Writing’s On The Wall [Escritos na parede]”, criada para a banda sonora do famoso filme 007-Spectre, é muito relacionável com a peça, aplicando-se mais a uma personagem em especial, Dona Madalena de Vilhena.
Logo no título encontramos uma possível associação à peça, quando Dona Madalena é obrigada a mudar-se para casa do seu primeiro marido, D. João de Portugal (“Sei decerto que vou ser infeliz, que vou morrer naquela casa funesta”), e, quando se deparou com o quadro que o representava (“Writing’s on the Wall [Escritos na parede]”), deu um grito e fugiu. Para Madalena, ter de ir viver para o palácio de D. João simbolizava o reviver dos seus fantasmas do passado (“vou achar ali a sombra despeitosa de D. João, que me está ameaçando com uma espada de dois gumes”), de quando ela vivia com ele, mesmo amando outro: “I’ve been here before / But always hit the floor [Eu já estive aqui antes / Mas sempre acabei no chão]”. Tal seria como regressar para os seus «braços». Seria uma ameaça ao seu amor e à sua felicidade.
Telmo e Madalena acreditavam em superstições e crenças, e, devido a isto, temendo a catástrofe, Madalena tem constantes premonições estranhas: “But I feel like a storm is comming [Mas eu sinto que uma tempestade está a vir]”. Também vivia atormentada com a possibilidade de a filha se tornar ilegítima devido ao regresso do primeiro marido. Telmo reconhece que “o pobre de meu amo” não recebeu o amor devido por Dona Madalena e esta própria admite que era fiel de corpo mas não de alma a D. João de Portugal.
Este drama romântico, com lances de tragédia, decorre sempre num ambiente pesado, sombrio e escuro e um dos momentos em que isso se faz sentir mais é quando Madalena não saía do seu quarto no palácio do desaparecido, “morto”, marido. Ela punha o seu amor por Manuel de Sousa Coutinho mesmo à frente do amor pela própria filha. “How do I live? How do I breathe? / When you’re not here I’m suffocating [Como é que eu vivo? Como eu respiro? / Quando não estás aqui eu sufoco]” é uma parte da canção que se adequa ao episódio em que Madalena não dormiu durante oito dias (“Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego”), estando sempre em tormento e só se animando e saindo do quarto quando apareceu Manuel (“Estou boa já, não tenho nada, esposo da minha alma. Todo o meu mal era susto; era terror de te perder”).
O primeiro marido de Madalena é sempre recordado pelas personagens. D. João, apesar de fisicamente ausente, está presente durante mais de metade da obra. Quando, finalmente, aparece fisicamente, ninguém o reconhece (“Quem sois?”), nem o próprio Telmo. Quando soube que até Madalena acreditara na sua morte, mesmo depois da sua carta, a dizer que regressaria da batalha de Alcácer Quibir, mandou o fiel escudeiro dizer a Madalena que o peregrino que lhe fora dar notícias do primeiro marido era um impostor. Manuel assume todas as culpas (“Fui eu o autor de tudo isto”) para que a sua filha não sofra mais (“For you I have to risk it all [Por ti tenho que arriscar tudo]”), chega até a desejar que morra para que não sofra a “vergonha” de ser filha ilegítima.

Patrícia [Bom]
Na canção “Million Years Ago”, do terceiro álbum da cantora e compositora Adele, 25, esta partilha com os fãs como a fama a afetou. Apesar do tema de Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett ser distinto deste, podem ser feitas algumas analogias.
Por um lado, percebemos que o coração de Madalena, mesmo enquanto esposa de D. João de Portugal, pertencia a Manuel de Sousa Coutinho. Quando o seu antigo marido foi dado como desaparecido, Madalena, após sete anos, decide seguir o seu coração ― “I let my heart decide the way / when I was young [Eu deixei o meu coração escolher o caminho / quando era jovem]”― e casar-se com este.
Por outro lado, durante a peça, Madalena está constantemente preocupada com a possibilidade de D. João ainda estar vivo ― “este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor”―, o que de certa maneira, constitui um prenúncio da chegada do romeiro, que se percebe ser o seu antigo companheiro, já no final do segundo ato ―“Deep down I must have always known / That this would be inevitable [Lá no fundo eu já deveria saber / Que isto seria inevitável]”—0, ou seja, prevê o seu ressurgimento.
A morte de Maria, fruto do segundo casamento de Madalena, que agora poderia ser julgada ilegítima, pode ser considerada um castigo para seus pais, originado pelas suas ações de adultério cego: “To earn my stripes I’d have to pay / And bear my soul [Para ganhar as minhas riscas teria de pagar / E carregar minha alma]”.
Madalena não é a única (“I know I’m not the only one [Eu sei que não sou a única]”) “[w]ho regrets the things they’ve done [que se arrepende das coisas que fez]”, visto que não só ela mas também Manuel, num “humilde hábito de pobres noviços”, vão professar numa ordem religiosa, de modo a tentarem remir os seus pecados.

Joana [Bom]
“Grenade”, de Bruno Mars, relaciona-se com Frei Luís de Sousa, uma vez que a letra conta a história de um relacionamento em que a rapariga decide seguir em frente com outra pessoa mas em que, apesar disso, o rapaz (antigo namorado) continua a dizer que faria tudo por ela, como levar com uma granada, colocar a mão numa lâmina ou saltar para a frente de um comboio. Tal como este relacionamento, em Frei Luís de Sousa Madalena segue a sua vida com outro homem, Manuel de Sousa Coutinho, por pensar que o seu anterior marido, D. João de Portugal, tinha sido morto na batalha de Alcácer Quibir. Apesar de ter recebido uma carta entregue e trazida por Frei Jorge com as palavras “vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo”, Madalena acreditava na morte de D. João de Portugal, apesar de existir a dúvida de que ele pudesse estar vivo, visto não haver corpo.
Quanto à interpretação da letra da música, consigo relacionar algumas frases com a tragédia, como é o caso de “Take, take, take it all / But you never give [Leva, leva, leva tudo / Mas nunca destes nada]”, que se identifica com a personagem Madalena dado que, após a suposta morte do antigo marido, ela ficou com a sua casa em Almada, já para não falar do amor que este sentia por ela e que nunca foi retribuído. Desta forma, Madalena teve sempre o que quis sem nunca dar nada aos que lhe sempre deram.
Quanto ao refrão, o sujeito poético da canção de Bruno Mars diz que “Throw my hand on a blade for you [Poria a mão numa lâmina por ti]” ou “Take a bullet straight through my brain [Levava uma bala na cabeça]”, ou seja, morreria por ela. Porém, penso que D. João de Portugal não estava assim tão apaixonado por Madalena para fazer isso por ela. Acredito que seria capaz de morrer por Madalena, mas não desta maneira. Também acho que D. João não desejava nada de mal a Madalena, apesar do que ela lhe fizera, nem a Maria, que ficou doente após ter regressado de Lisboa, pelo que não concordo com a seguinte parte da canção: “Mad woman, bad woman / That’s just what you are [Mulher maluca, mulher má / É isto que tu és]”. Apesar disto, Manuel sentia-se culpado pela doença da filha: “É o castigo terrível do meu erro… se foi erro… crime sei que não foi. E sabe-o Deus, Jorge, e castigou-me assim, meu irmão!”.
Para terminar a minha análise, penso que, se houvesse bandas sonoras em Frei Luís de Sousa, “Grenade”, de Bruno Mars, encaixar-se-ia muito bem no Ato Segundo, Cena XIV, ou seja, na cena em que Madalena se reencontra com D. João, que, na peça, se apresenta como Romeiro.

Carolina [Bom +]
A peça Frei Luís de Sousa, escrita por Almeida Garrett, conduz-nos, desde o princípio, a um final dramático e previsível. Tal como na peça, a música “LoveSong”, de Adele, embala-nos na tragédia de uma história de amor infortunada, através da sua melodia triste e melancólica, que se encontra em concordância com as cenas fatídicas do texto dramático.
Ao longo de toda a peça somos levados a conhecer e a explorar os relacionamentos que as personagens mantêm entre si, e os seus futuros trágicos, de tal forma que “LoveSong” é facilmente associada a quase todas as personagens.
Começando por Dona Madalena de Vilhena e D. Manuel Coutinho (cujas ações quase diretamente desencadeiam o rumo tomado pelos restantes protagonistas), podemos defini-los através dos dois primeiros versos do tema de Adele, “Whenever I’m alone with you / You make me feel like I am home again [Sempre que estamos sozinhos / Fazes com que me sinta de novo em casa]”. É evidenciado por passagens como “não tenho nada, esposo da minha alma. Todo o meu mal era susto; era terror de te perder” o grande amor que é partilhado pelos dois, apesar dos males que sofreram (primeiro casamento de Dona Madalena) e que hão de sofrer (regresso de D. João de Portugal).
Também Maria de Noronha, filha do casal, e Telmo sentem uma forte ligação de amizade e proteção um pelo outro: “Whenever I’m alone with you / You make me feel like I am young again [Sempre que estamos sozinhos / Fazes com que me sinta jovem outra vez]” é algo que o criado poderia sentir pela inocente e brincalhona Maria, que o vê como um grande amigo.
“However far away I will always love you / Whatever words I say I will always love you [Por muito longe que esteja sempre te amarei / Quaisquer que sejam as palavras que digo sempre te amarei]” são versos que se ligam facilmente a duas relações distintas: aquela que Telmo partilha com D. João de Portugal e a de Dona Madalena com o seu primeiro marido. Apesar de todas as provas e de tudo o que foi proferido, Telmo sempre manteve um grande amor pelo primeiro amo, que é demonstrado pela lealdade que sempre lhe mostrou na crença do seu retorno (“Meu amo, meu senhor (...) Meu filho!... Oh! é o meu filho todo”). Por outro lado, estes versos podem também ser a expressão do afeto que João de Portugal durante vinte e um anos não pôde mostrar à mulher cujo coração não lhe pertence, mas que sempre amará.
Apesar das tentativas de negação por parte de Dona Madalena, o seu maior pesadelo tornou-se verdade: o regresso do primeiro marido determinou para sempre o resto da sua vida e a de Manuel, que estavam destinadas, desde o início, ao serviço a Deus. Apesar de tudo, percebemos que “However long I stay I will always love you / ‘Cause I love you [Por muito tempo que fique sempre te amarei / Porque te amo]”, já que a distância não separa dois corações que se uniram no caos.

João Cabo [Bom (-)]
O tema “Tears in Heaven” (Lágrimas no Paraíso), composto e interpretado pelo artista britânico Eric Clapton, pode servir para retratar o final da obra Frei Luís de Sousa, porque a música é sobre a dor de Eric Clapton após ter perdido o seu filho quando este tinha apenas quatro anos de idade, tal como no desfecho da obra de Garrett, onde Maria, filha de Manuel e de Madalena, acaba por morrer.
No final da obra, os principais personagens chegam à conclusão de que Maria estava doente, mais propriamente com tuberculose, e instala-se um clima de tragédia, que é sobretudo devido à chegada de D. João de Portugal, que leva ao fim do casamento de Manuel e Madalena — depois de vinte e um anos desaparecido, durante os quais tinha sido dado como morto em combate na batalha de Alcácer Quibir.
No refrão da música podemos ouvir “Would you know my name if I saw you in heaven? [Saberias o meu nome se eu te encontrasse no paraíso?]”, que é como se o artista perguntasse a si mesmo se o seu filho o conheceria se se encontrassem no futuro. Podemos imaginar Manuel a fazer esta pergunta a Maria mas com o sentido de “Saberias que eu era o teu pai, quem era a tua família e qual era o teu nome?”, como que para “afastar” Maria de D. João de Portugal, para que ela não soubesse que ele era casado com a sua mãe, e interiorizasse que a família eram, apenas, ela, Manuel e Madalena.
Há ainda uma passagem na música: “Time can bring you down, time can bend your knees,time can break your heart, have you begging please [O tempo pode mandar-te abaixo, o tempo pode fazer-te ajoelhar, o tempo pode partir-te o coração, fazer-te implorar “Por favor”]” — que chega a acontecer na peça — “Misericórdia, meu Deus” (Madalena, cena XI, linha 44, ato terceiro), com Madalena a implorar para que Maria não morra.
No final, Madalena e Manuel seguem a vida religiosa, tornando-se sóror e frei, respetivamente, adotando novos nomes, Madalena e Luís de Sousa. Na música de Eric Clapton: “I must be strong and carry on… I’ll find my way, trough night and day [Eu tenho de ser forte e seguir em frente… Eu irei encontrar o meu caminho, pelo dia e pela noite]”.

Diogo [Suf]
Certos trechos desta canção dos Skillet podem ser aplicados, ou até mesmo, se calhar, descrever certas partes de Frei Luís de Sousa.
A quadra “I’m at war with the world and they / Try to pull me into the dark / I struggle to find my faith / As I’m slippin’ from your arms [Estou em guerra com o mundo e eles / Tentam puxar-me para o escuro / Tenho dificuldade em encontrar o meu caminho / Enquanto escorrego dos teus braços]” molda-se bem ao facto de D. João de Portugal ter ido para uma batalha, em Alcácer Quibir, onde desapareceu, tendo portanto sido afastado de sua mulher por muitos anos. É como se o próprio mundo estivesse em guerra com ele, dificultando-lhe a vida e impedindo-o de voltar a sua casa, para junto da família. Isto desencadeia todos os eventos seguintes, mas o facto de D. João de Portugal ter desaparecido na batalha de Alcácer Quibir estraga-lhe a vida completamente, não podendo ele ver a família durante imenso tempo, até ao ponto em que a sua família pensou que estaria morto e que nunca mais iria voltar, embora se venha a saber mais tarde que não morreu, acabando por voltar a Portugal, à sua antiga residência, onde encontra e interage com a sua mulher, ainda que ela não saiba que D. João de Portugal (sob a identidade de um Romeiro) é o próprio. Mas, como se sabe, por lermos Frei Luís de Sousa, é graças ao desaparecimento de D. João de Portugal que D. Madalena pôde então ficar com o verdadeiro amor, D. Manuel, e ter uma filha e uma boa vida com este (até ao reaparecimento de D. João).
O verso “I’m awake, I’m alive [Eu estou vivo, eu estou acordado]”, que é também o título da canção, poderia descrever o momento em que o Romeiro está de saída dos aposentos, quando Jorge se apercebe de que o ele é, na verdade, D. João de Portugal, ao apontar para o seu quadro enquanto sai. Este momento pode ser facilmente descrito pela frase “Eu estou vivo, eu estou acordado”. Se D. João de Portugal tivesse enviado uma carta a D. Madalena dizendo estas mesmas palavras, teria exactamente o mesmo efeito, com também a mesma causa.
Com a sua chegada, o novo casamento de D. Madalena (com Manuel de Sousa Coutinho) passaria a ser ilegítimo, o que era um enorme golpe na reputação e na honra da família, o que deixa D. Madalena infelicíssima e Manuel decidindo acerca do que fará para resolver a situação.

Bea S. [Bom -]
A canção que eu escolhi é dos The Florence and the Machine, “Shake It Out”, faixa do álbum Ceremonials (2011), já que através desta, rapidamente, consegui fazer uma analogia com algumas personagens da peça de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, principalmente com Madalena.
Começando pelo início da música, encontramos os versos “Regrets collect like old friends / Here to relive your darkest moments [Remorsos se acumulam como velhos amigos / Estão aqui para reviver seus momentos mais sombrios]”, que podem associar-se à peça Frei Luís de Sousa, visto que Madalena reconhecia nunca ter estado apaixonada por D. João de Portugal durante os anos em que estiveram casados. Através de conversas com Frei Jorge soubemos que os remorsos de Madalena não se fundamentavam no facto de nunca ter estado apaixonada por D. João, mas em ter-se apaixonado por Manuel de Sousa Coutinho assim que o vira, ainda com D. João de Portugal vivo.
Maria, filha de Madalena e Manuel de Sousa, apesar de apresentar sintomas de tuberculose, doença vulgar naquela época, era uma criança muito curiosa e enérgica, mas, segundo a mãe, demasiado madura para a sua idade. Maria, devido à sua grande vontade de saber sempre tudo e da sua grande imaginação, perguntava a Telmo (“a sua aia de criação”) o que tinha acontecido nas batalhas, onde o desaparecimento de D. Sebastião era muitas vezes assunto de conversa.
Após Maria ter visto a reação de Madalena ao ver o retrato de D. João pendurado na parede do palácio de Almada, questiona Telmo sobre o referido retrato, trazendo à tona, desta forma, os fantasmas do passado (“And all of the ghouls come out to play [Todos os mortos-vivos saem para brincar]”), deixando Madalena em aflição durante dias a fio. Telmo respondeu-lhe que era da família dos senhores da casa de Vimioso. Maria soube que Telmo lhe mentia (“Tu não me dizes a verdade, Telmo”).
Com os versos “But I like to keep some things to myself / I like to keep my issues drawn [Mas eu prefiro manter algumas coisas para mim mesma / Gosto de manter minhas questões só para mim]” podemos fazer uma analogia com o facto de Maria e Manuel não quererem contar a verdadeira identidade de D. João a Maria.
Apesar de já ter passado vinte e um anos após o desaparecimento de D. João, Madalena não consegue deixar o passado para trás (“I can never leave the past behind [Nunca consigo deixar o passado para trás]”), vivendo sempre com medo de que D. João regresse, pois o seu corpo nunca foi antes encontrado. Caso D. João voltasse, o seu casamento com Manuel ficaria inválido e a sua filha seria considerada ilegítima.

João [Bom (-)]
A canção “Powerless”, da banda Linkin Park, pode ser relacionada com a peça Frei Luís de Sousa. Tal como sucede na peça, a música transmite-nos uma mensagem de perda e de mudança em relação a algo.
A peça Frei Luís de Sousa é um drama em que se vão encadeando várias tragédias, onde também ocorre mudança e perda. Mudança em termos políticos, pois em Portugal assistia-se então ao domínio espanhol. E em termos pessoais e familiares, pois assistimos à dissolução de um casamento e à morte.
Logo no ato I, Manuel de Sousa Coutinho, ao descobrir que os governadores espanhóis se vão instalar na sua residência, decide incendiar a mesma (“I saw the evidence, the crimson soaking through [Eu vi a prova, o carmesim imergindo]”). Este ato é uma forma de Manuel expressar a sua revolta para com os governadores espanhóis e também de mostrar que o povo português pode voltar a ser um povo independente. De certa forma, pode-se dizer que ele teve de mostrar uma parte de si que os governadores nunca tinham visto, como sintetiza o verso “You woke the devil that I thought you’d left behind [Você acordou o demónio que eu pensei que você tinha deixado para trás]”.
Nos restantes dois atos, a história toma outro rumo quando D. João de Portugal, julgado morto em batalha, reaparece sob as vestes de Romeiro, sendo o seu fiel aio, Telmo, o único que acreditara que D. João, após vinte e um anos, haveria de voltar, como fora indicado na sua carta – “vivo ou morto, Madalena, hei-de ver-vos pelo menos ainda mais uma vez neste mundo”. Este reaparecimento torna o amor de Madalena e Manuel impossível. Ao descobrirem a verdade, concluem que não só o seu casamento é ilegítimo como a sua filha, Maria, a quem eles tanto amavam e por quem mais cuidavam, era fruto de pecado (“Maria… a filha do meu amor, a filha do meu pecado”).
Quanto a D. João de Portugal, na altura com a roupagem de romeiro, fica com um vazio no coração (“Tiraram-me tudo”) e sente que já não tinha razões para ficar, ao entender que perdera o amor de Madalena para Manuel e que perdera Telmo, que agora amava mais Maria que o seu antigo amo (“É que o amor destoutra filha, desta última filha, é maior, e venceu… venceu… apagou o outro…”). Esta ideia de vazio e solidão é exatamente a que encontramos no verso “I left with emptiness that words can not defend [Eu saí com um vazio que as palavras não podem expressar]”.
A peça irá terminar tragicamente. Madalena e Manuel consideram que o seu pecado só será expiado se eles se entregarem a Deus. Maria, ao descobrir toda a verdade, tenta impedir o acontecimento mas, impotente (“Powerless”), morre de vergonha.

Bea R. [Suf +/Bom -]

O primeiro marido de D. Madalena de Vilhena tinha partido para Marrocos, para a batalha de Alcácer Quibir, e tinha desaparecido há já sete anos quando ela decide casar de novo, com D. Manuel de Sousa Coutinho. Deste casamento, considerado um pecado por muitos, nasce uma filha, D. Maria de Noronha. D. Maria de Noronha é uma menina, com treze anos, curiosa, frágil e com tuberculose.
Apesar de viver feliz e amar verdadeiramente D. Manuel, D. Madalena sente-se constantemente atormentada com a possibilidade do regresso do seu primeiro marido cujo corpo nunca fora encontrado. Vinte e um anos após o seu desaparecimento, aparece um romeiro que diz ter informações sobre D. João, quando, na verdade, é o próprio, que estivera cativo vinte anos, na Terra Santa. D. João de Portugal, regressado do cativeiro, encontra a sua mulher casada com outro homem.
A música “When I Was Your Man”, de Bruno Mars, pode representar, de certa forma, D. João a recordar tudo o que passara com Madalena de Vilhena e o que vê agora perante os seus olhos, depois de tanto tempo fora. Mas também se pode adequar aos sentimentos de Madalena, antes de D. João regressar, pois, mesmo casada com Manuel de Sousa Coutinho, a imagem de D. João e a possibilidade de ainda estar vivo a assombravam todos os dias (“And it haunts me every time I close my eyes [E isso assombra-me cada vez que eu fecho os meus olhos]”).
A vida de Madalena de Vilhena foi reconstruída após o desaparecimento do ex-marido em Alcácer Quibir, sendo relevante o facto de ter casado com outro homem (“Now my baby’s dancing / But she’s dancing with another man [Agora a minha querida está a dançar / mas está a dançar com outro homem]”).
No decorrer do Ato II, D. Madalena confessou a Frei Jorge (irmão de Manuel de Sousa, amigo da família e confidente) que ainda em vida de D. João de Portugal amara D. Manuel de Sousa, apesar de ser fiel ao seu marido.
No final do Ato III é dado o início da cerimónia da tomada de hábito, pois era a única solução perante o casamento e a filha ilegítima de D. Madalena e Manuel de Sousa. O Romeiro ainda tenta salvar a família pedindo que minta ao dizer que é um impostor, mas por fim, não tendo salvação, Maria morre de desgosto, e os pais vão para um convento tornando-se D. Manuel, Frei Luís de Sousa e D. Madalena, Soror Madalena.

Gonçalo S. [Bom]

A música eleita, “Jura”, de Rui Veloso, poderia facilmente enquadrar-se na obra de Almeida Garrett que estamos a estudar, Frei Luís de Sousa. A tristeza, o drama, o desespero e o sofrimento que atravessam toda a peça, cena após cena, vão ao encontro da música apresentada. O seu carácter, não menos triste e melancólico, possibilita e facilita as analogias.
Diria que esta canção poderia até servir como uma fala de Madalena de Vilhena na peça. Uma fala dirigida ao seu primeiro marido, D. João de Portugal, que fora dado como desaparecido na batalha de Alcácer Quibir. “Jura que não vais ter uma aventura / dessas que acontecem numa altura” era o que Madalena queria ter dito ao marido antes de este partir ao serviço da pátria. Depois do desfecho trágico que aquela batalha teve para os lusitanos e, em particular, para Madalena, que sofreria por ter perdido o marido, ela gostaria, sem dúvida, de poder voltar com tudo atrás. Agora, “depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva e sem ninguém”, Madalena, já casada pela segunda vez e mãe de uma filha proveniente deste casamento, não esquece o acontecimento trágico. São essas recordações que não a deixaram viver, que a afrontaram e continuam a afrontar durante tantos anos: “Sabeis como chorei a sua perda, como durante sete anos, o fiz procurar”. Mas nem mesmo o tempo consegue curar este sofrimento. Não é também fácil para Madalena esquecer o sucedido, quando na sua casa vive o antigo aio de D. João, Telmo, que, mesmo ciente do tempo que passara desde o desaparecimento de D. João, não se conforma com a sua morte, e defende a pés firmes que o amo está vivo, pois, como prometera, “vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda mais uma vez”. E, uma vez que ainda  não aparecera morto (“a sua alma, a sua figura”), haveria ainda de aparecer, vivo. Estas constantes considerações feitas por Telmo entristeciam e reavivavam as angústias de Madalena, deixando-a muito instável.
Ao longo da peça, reparamos também em dois objetos que são de importância extrema para Madalena: duas pinturas. Uma, de Manuel de Sousa; outra, de D. João. “Vais fazer uma pintura” é portanto, algo que promove uma analogia. Não com as qualidades artísticas dos pintores, nem muito menos com os dotes de modelos que os dois cavaleiros compartilhavam, mas sim com estes quadros, que são, sem dúvida, um elo importante no enredo, especialmente o quadro de D. João, que permite uma representação do passado e indicia algum acontecimento que poderia está para vir.
Finalmente, é ainda engraçado o facto de parecer que Rui Veloso quis figurar, através de metáforas, o sentimento de saudade que Madalena sente pelo seu primeiro marido: “Que a solidão é dura / e o amor é uma fervura / que a saudade não segura”. Madalena queria realmente saber se D. João estava morto ou vivo, dúvida que caiu por terra, aquando do aparecimento na casa que lhes pertencera a ambos, de um velho que se apresentou como um romeiro. Madalena não se apercebeu de que era D. João de Portugal, mas percebera que este estaria vivo, por causa do que o Romeiro lhe disse e pela confirmação que este lhe deu quando apontou para o tal quadro onde D. João se encontrava pintado.
Afinal, a aventura levada a cabo por D. João sempre valeu a pena, pois, embora tenha saído derrotado da batalha, conseguiu sobreviver e voltar a ver Madalena como prometera: “Mas jura que se tiver de ser / ao menos que valha a pena”.

Gil [Suf]

Este comentário ocupar-se-á, em geral, do Ato Segundo, focalizando um pouco mais a Cena I.
Já no palácio que fora de D. João de Portugal, D. Madalena dormia, algo que deixa Maria e Telmo alegres pois desde que haviam chegado, Madalena não dormia. A inquietação que tinha provinha de se encontrar na casa do seu primeiro marido, o que a impedia de ter qualquer vontade de dormir, o que deixava Maria preocupada, como podemos ver na sua segunda fala: “E não me repliques, que então altercamos, faz-se bulha, e acorda a minha mãe, que é o que não quero. Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa (…) a crescer para o ar e a devorar tudo com fúria infernal”. E logo a seguir: “Ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a repreender pelas cismas agora não lhe sai da cabeça que perda do retrato (…) que a tem de separar de meu pai
Ao contrário do que pareceria, a verdadeira causa da insónia de sua mãe não era tanto a tal destruição da própria casa mas sim as recordações do palácio onde estavam agora alojados, o palácio que fora do seu primeiro marido (D. João De Portugal), que desaparecera na célebre batalha de Alcácer Quibir e que deixara Madalena viúva.
“Ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a repreender pelas cismas agora não lhe sai da cabeça que perda do retrato (…) que a tem de separar de meu pai —a reação de Madalena a este momento da sua vida (insónias, inquietação constante) é fruto da data que se aproxima e da sua habitação atual. Seria o 21.º aniversário da batalha de Alcácer Quibir. Além disso, mais à frente, neste ato, Madalena ficaria sozinha, algo que a aterrorizava.
Aqui deparamo-nos com um dos indícios trágicos deste drama, a coincidência com o aniversário da infame batalha por que Madalena era viúva. A tragédia concretiza-se com a chegada de um romeiro (João de Portugal), que vem confirmar os medos de Madalena.
A canção que achei que se relacionava com este passo da peça é «Insónia», de Filipe Pinto. Julgo que a música se relaciona com esta parte do drama pois, tal como Madalena, o “eu” da canção assume que “Em escassas horas de sono / Assim sento e recolho / Ao frio da insónia / Que vi, em mim...”. Madalena tinha escassas horas de sono pela preocupação e angústia que sentia.
“Faz-me revirar o tempo / O monstro não me deixa não... / Dessa mente que não quer sossego! //Dessa mente que não quer sossego! / Murmúrios ou medos / Há quem durma sem jeitos” —  na peça os medos são os de perder Manuel de Sousa ou de que algo de mal venha a acontecer a Maria, o que faz com que Madalena não consiga o sossego que tanto quer e de que necessita.

Tomás [Suf]

A música dos Linkin Park “In The End”, na minha opinião, consegue demonstrar os sentimentos de D. João de Portugal. No início da letra, o sujeito poético da canção de Mike Shinoda começa por dizer que o tempo é um bem precioso: “All I know... / Time is a valuable thing / Watch it fly by as the pendulum swings [Tudo o que sei… / O tempo é uma coisa preciosa / Vê-o a voar enquanto o pêndulo balança]”. Eu associo esta parte da letra ao tempo perdido por D. João nos vinte e um anos em que tentou voltar para Madalena. Mas não é apenas o tempo que foi desperdiçado… como o vocalista canta: “I kept everything inside and even though I tried, it all fell apart / What it meant to me will eventually be a memory of a time when / I tried so hard / And got so far / But in the end / It doesn't even matter / I had to fall / To lose it all [Guardei tudo dentro de mim e, mesmo sabendo que tentei, tudo se desmoronou / Tudo o que significava para mim vai eventualmente ser uma memória de um tempo em que / tentei tão arduamente / e cheguei tão longe / mas no fim isso nem sequer interessa / tive de cair (tive de sofrer) / para perder tudo]”. Isto pode relacionar-se com o texto no sentido de que D. João perdeu tanto tempo e tentou tão arduamente e sofrer tanto — e quem sabe quantos sacrifícios fez para voltar para a mulher—, para, no fim, nada valer a pena por, devido ao seu amor, Madalena, o ter trocado por Manuel de Sousa.
Depois de ter uma conversa com Telmo, e este lhe explicar o que acontecera enquanto D. João estivera fora, D. João compreendeu que, se ficasse e arruinasse o casamento de Madalena e Manuel, iria também estragar a vida de uma jovem mulher, Maria, e ordenou a Telmo que este dissesse que o romeiro era um impostor, na tentativa de salvar a família Coutinho. Mas já era tarde, porque a cerimónia já tinha começado. Maria, porém, interrompeu-a, para tentar apelar para a “conversão e recuperar os seus pais”, mas, ao entrarem Telmo e o romeiro, Maria reconhece a voz de D. João e morre de vergonha.
Na minha opinião, a intenção de D. João é a contrária à do desfecho final porque D. João amava realmente dona Madalena e apenas queria a felicidade desta.

Francisco Maia [Bom -]

A canção “Stuck in the Middle with you, da banda Stealers Wheel tem uma relação no mínimo peculiar com a obra Frei Luís de Sousa. Imediatamente, notamos o título, que traduzo para Preso no meio entre vocês”, uma relação com Madalena, e, muito provavelmente com o que ela sente, presa entre o passado e o presente, com D. João de Portugal pelo passado e Manuel Luís de Sousa Coutinho, pelo presente.
Logo no início da música temos os clássicos agoiros, partilhados pela obra musical e pela teatral. A letra da música refere “and I don’t know why I came here tonight, I got a feeling that something aint’ right” (eu não sei porque vim aqui hoje / tenho um mau pressentimento sobre isto), que é, no fundo, agoiros, comuns ao sujeito lírico da canção e Madalena, personagem que mais sofre com tais presságios que acabam por ser confirmados com o decorrer da peça. As conexões mantêm-se, com a sensação de pânico e ansiedade que Madalena sente com os seus pares atuais e passados, sendo os atuais, Manuel de Sousa Coutinho e os passados, D.João de Portugal, que, presumidamente, morreu em Alcácer Quibir.
Por outro lado, a música “Stuck in the Middle with You” só ficou conhecida após a sua utilização no famoso filme de Quentin Tarantino Reservoir Dogs (1992), numa cena de tortura em que esta música tocava ironicamente, contrastando com o cenário, que era brutal.
Tanto a peça como a letra da música vão-se desenrolando, e Madalena parece estar pronta, quando descobre que o Romeiro traz as novas pelas quais temia (D. João estar ainda vivo/ter sobrevivido à famosa batalha de Alcácer Quibir), a dizer o que o cantor, Gerry Rafferty, diz na canção: “I don't think that I can take anymore(eu já não aguento mais) pois todos os seus maus presságios parecem confirmar-se, mesmo ninguém tendo informado D. Madalena da verdadeira identidade do pressagioso peregrino. E mais, Maria, a filha de Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, parece confrontar os pais na igreja e, depois, percebendo a sua condição e o seu provável destino desonroso, morre, nos braços do pai, não da febre que ao longo da peça se manteve com altos e baixos, mas de vergonha. Provavelmente, Maria pensou “I don't think that I can take anymore”.

Catarina [Bom]
O ambiente que envolve as personagens no Ato Primeiro e Segundo do drama romântico de Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, é pesado, melancólico e angustiante para D. Madalena de Vilhena, visto que o cenário apresenta a casa que partilhava com seu ex-marido presumidamente perdido na guerra de Alcácer-Quibir, e assim também se pode descrever a canção de Jeff Buckley, “Lover, you should've come over”, do seu primeiro álbum de estúdio, Grace (1994). A letra da canção adapta-se, por vezes, ao desconsolo e tristeza tanto de Madalena, como de D. João de Portugal, que, tomado como morto, ficara a saber que a sua adorada Madalena voltara a casar.
Madalena juntou-se em matrimónio com D. João de Portugal ainda muito nova. No entanto, quando viu pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho, cavaleiro de Malta, apaixonou-se instantaneamente, como confessa a Frei Jorge Coutinho, irmão de Manuel, sentindo-se claramente tomada por tormentos: “Este amor, que hoje está santificado e bendito no céu, porque Manuel de Sousa é meu marido, começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi… e quando o vi, hoje, hoje… foi em tal dia como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo!”. Tal sentimento pode ser também interpretado na letra de Buckley em “And maybe I'm too young to keep good love from going wrong” (E talvez seja demasiado novo para evitar que bom amor corra mal), sendo que talvez Madalena tivesse casado demasiado cedo e não soubesse o que realmente era amar alguém (se bem que crê que amou Manuel assim que o viu, algo muito projetado para a posição típica de um “romântico incurável”).
Vejamos a perspetiva de outra personagem, D. João de Portugal, que fora prisioneiro de guerra durante vinte e um anos, e durante todo esse tempo, ansiara por ver de novo o seu grande amor, Madalena, e cujo forte sentimento de paixão que sentia por ela é indicado, embora indiretamente, por Telmo, quando D. Maria de Noronha, filha de Madalena e Manuel, referindo-se a um retrato de D. João com a sua espada, replica que parece que tinha não tinha outro amor senão a guerra, acrescentando Telmo “Pois tinha, oh! se tinha…!”.
D. João ansiava por ver de novo Madalena, e esse sentimento de saudade eterna e de amor tão profundo é descrito também em versos de Buckley: “It's never over, my kingdom for a kiss upon her shoulder / (…) It's never over, all my blood for the sweetness of her laughter / It's never over, she's the tear that hangs inside my soul forever” (Nunca tem fim, o meu reino por um beijo no seu ombro/ Nunca tem fim, todo o meu corpo pela doçura do seu riso / Nunca tem fim, ela será sempre a lágrima que pendura dentro da minha alma). A dor de D. João ao ver que Madalena voltou a casar e prosseguiu com a sua vida é apenas imaginável, e a sua amarga nova personalidade talhada pelos anos em cativo e pela lacuna no seu coração devido a Madalena mostram-se quando aparece pela primeira vez na cena XIII do Ato Segundo (A minha família… Já não tenho família” ou, dirigindo-se a Madalena, “Agora acabo; sofrei, que ele [D. João] também sofreu muito.”).
A canção termina com “Lover, you should've come over / Cause it's not too late”, que se aplica mas de uma forma um tanto irónica, à situação da peça, sendo que D. João acabou por regressar, mesmo após tanto tempo. No entanto, a sua chegado foi uma tragédia que atingiu as personagens, ao invés do sonho do sujeito poético da letra, Buckley.

Gonçalo Sim. [Suf +]
Este comentário-análise tem como objetivo conectar a peça Frei Luís de Sousa a uma canção, não tendo encontrado nenhuma música portuguesa que se ligasse à peça, portanto resolvi procurar uma canção de língua estrangeira (claramente em inglês), tendo encontrado a canção de Sam Smith, “Writing’s On The Wall”.
Na minha opinião esta canção é perfeita para se encaixar num comentário acerca da peça de Almeida Garrett, apesar de não ser portuguesa. Cantada pela incrível voz de Sam Smith,” Writing’s On The Wall”, é o tema principal do mais recente filme do 007, Spectre.
No primeiro verso da canção, “I’ve been here before” (em português “Já estive aqui antes”), pode-se evidenciar um dos sentimentos que Madalena viveu, ao voltar para a sua antiga casa, a casa de D. João de Portugal, o seu primeiro marido. Ao regressar a esta casa, Madalena sentiu-se angustiada e, possivelmente, com dor, ao reaver o retrato de D. João de Portugal, uma dor que pode ser considerada na frase “A million shards of glass”,” Um milhão de pedaços de vidro”, comparando-se assim a realidade desta frase com o coração de Madalena, que completamente destroçado.
Madalena parece ter se arrependido do que fez no passado, sendo o verso” That haunt me from my past”,”Que me assombram do meu passado”, perfeito para explicar o seu arrependimento. Quando Telmo duvida da morte de D. João de Portugal, Madalena ficou arrependida e assustada porque já tinha seguido com a sua vida e já tinha outro marido e uma filha com desse atual casamento, de seu nome Maria, ficando assim angustiada perante a possibilidade de D. João ter sobrevivido à batalha de Alcácer Quibir.
O verso “How do I live? How do I breathe? [Como é que vivo? Como é que consigo respirar?]” pode ser aproximado da ansiedade de Madalena quando o Romeiro lhe conta que D. João de Portugal estava de facto vivo (mais tarde, o Romeiro revela ser verdadeiramente D. João de Portugal a Telmo).
Quanto aos versos “For you I have to risk it all / Cause the writing’s on the wall” (em português, “Por ti tenho de arriscar tudo / Por causa da escrita na parede”, também os conseguimos relacionar com a história, tendo Madalena abdicado de tudo para tentar viver normalmente com outra pessoa (Manuel de Sousa Coutinho), sendo a escrita na parede o retrato de D. João de Portugal que assusta Madalena. Lembremos que Madalena foi obrigada a entrar na sua antiga casa obrigada por Manuel de Sousa Coutinho, e se assusta perante o retrato de D. João , fugindo depois, como há de contar Maria.

Leonor [Bom -/Bom (-)]
A canção “Coming home”, dos Avendged Sevenfold, é como uma carta escrita por D. João de Portugal, uma carta que percebemos ser sofrida: “I've stood in hell” (“Eu estive no inferno”). Apresenta a mesma conotação da sua descrição da situação por que passou “eu não mereci estar onde estive”, quando está na sala dos quadros com Madalena e Jorge.
Este texto é portanto como um confronto entre essa “carta” e o que é descrito em Frei Luís de Sousa.
D. João é a personagem causadora da tragédia no drama da obra de Almeida Garrett apesar da sua curta presença física. Nessa rápida presença física, o impacto não é como o esperado, apesar de todos os presságios antecedem a sua chegada, pois D. João não é reconhecido, tendo-se apresentado como um romeiro. O seu cativeiro em Jerusalém transformou-o, não o tornando facilmente identificável com as suas robustas barbas brancas e cabelos longos (“Estou tão velho e mudado do que fui!”) como é igualmente dito na carta “My weary limbs have grown old” (“Os meus fartos membros envelheceram”). Tão mudado está, que apenas o seu aio o reconhece, mas não pela sua aparência (“Esta voz… esta voz!”).
Quanto à ausência de João temos apenas a perspectiva de Telmo e Madalena e o quanto ambos sofrem, deixando-nos a imaginar o que D. João passou por uma curta e feroz descrição. Telmo, pela lealdade que tem pelo seu senhor, ansiando sempre a sua chegada pois não acredita que possa ter morrido e ache que, se não morreu, irá certamente voltar a ver Madalena (“”Vivo ou morto”─ rezava ela ─ vivo ou morto… Não me esqueceu uma letra daquelas palavras; e eu sei que homem era meu amo para as escrever em vão”) e Madalena, pelo medo, que considera irracional, de D. João ainda poder aparecer, e do que isso representaria para a sua família (“Valha-me Deus Telmo! Conheço que desarrazoais; e contudo as suas palavras metem-me medo… Não me façais mais desgraçada”).
Mas, enquanto Telmo e Madalena sofrem de ansiedade, D. João sofre pelo terror pelo confronto com a realidade. Lutou ao lado de D. Sebastião na Batalha de Alcácer Quibir e foi dado como desaparecido assim como ele: “And drink the blood of a king(“E bebo sangue de um rei”). Mas, ao contrário de D. Sebastião, cujo desaparecimento significava a morte, a entrada para o céu, para D. João foi a entrada para o inferno, ficando em cativeiro durante vinte e um anos (“deram-me muitos tratos)”,” I stared the devil in the eyes” (“Eu encarei o diabo nos olhos”).
Queria encontrar a sua coragem em Deus, “Queria rezar e meditar nos mistérios da Sagrada Paixão que ali se obrou ”,” I've looked to gods in the skies” (“Procurei pelos deus nos céus”). Enquanto isso, Madalena tinha recuperado a sua vida, a sua felicidade e tinha uma nova família, “traindo” D. João que ainda tentava voltar “e as paixões mundanas, e as lembranças dos que se chamavam meus segundo a carne travavam-me do coração e do espírito ”. Mesmo tendo conhecimento da vida atual de Madalena, queria voltar, porque “Home is where the heart is” (“Casa é onde o coração está”). Apesar de saber que a sua vinda não ia ser benéfica, quis cumprir a sua promessa, a promessa que escrevera fora entregue a Jorge fixada por Telmo. D. João queria apenas “live again” (“Viver outra vez”).

Pedro [Bom (-)/Bom]

“Esperar que um dia eu não espere mais um dia / Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente” são dois versos do refrão de “Desfado”, de Ana Moura, mas que muito bem poderiam ser uma fala de Madalena, personagem de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett.
Na peça de teatro, é-nos dado a perceber, logo na segunda cena, que o primeiro marido de Madalena, D. João de Portugal, desaparecera na batalha de Alcácer Quibir e, agora, após vinte e um anos, é encarado como morto: “Depois que fiquei só, depois daquela funesta jornada de África que me deixou viúva”. Percebemos também rapidamente que Madalena voltara a casar, agora com D. Manuel de Sousa Coutinho, e que têm uma filha, Maria, que tem tuberculose.
Madalena é atormentada por Telmo, o fiel escudeiro, e, em parte, também pela filha, com presságios e superstições sobre o regresso de D. João. A música de Ana Moura ilustra muito bem esta situação.
Na décima cena do segundo ato, Madalena admite finalmente ter-se apaixonado por D. Manuel quando ainda era casada com D. João (“Este amor, que hoje está santificado e bendito no céu, (…), começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi… e quando o vi (…) D. João de Portugal ainda era vivo!”). Em “Desfado”, é exclamado pelo sujeito poético “Ai que tristeza, esta minha alegria / Ai que alegria, esta tão grande tristeza”, o que se poderá aplicar à morte de D. João, o que terá sido trágico mas acabou por possibilitar a união de Madalena com D. Manuel. Ao mesmo se refeririam os versos “Sentir-me triste / Só por me sentir tão bem / E alegre sentir-me bem / Só por eu andar tão triste (…) Ai que desgraça esta sorte que me assiste / Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada”.
No segundo ato de Frei Luís de Sousa, a ação muda-se para a antiga casa de D. João de Portugal e os medos de Madalena de que este regresse tornam-se mais intensos. Notamos que Madalena põe em causa a sua morte. Na peça, este sentimento é transmitido lentamente, levando a plateia a inferi-lo, enquanto que Ana Moura canta “Na incerteza que nada mais certo existe / Além da grande certeza de não estar certa de nada”.
Todos estes medos de Madalena servem para atribuir um clima ainda mais funesto à obra de Garrett, criando-se uma aura quase maligna em volta de D. João mas, por outro lado, diminuindo o suspense pois a plateia facilmente adivinha o regresso de D. João.

Maria [Suf +]

A música que escolhi para fazer o comentário-análise à obra Frei Luís de Sousa foi “Hello [Olá]”, de Adele, que se enquadra, a meu ver, no final do Ato II e no Ato III, e relaciona-se especialmente com as personagens D. João de Portugal / Romeiro e D. Madalena de Vilhena.
A tragédia começa quando D. Sebastião decide encetar uma campanha contra os mouros no norte de África, levando consigo grande parte da nobreza portuguesa, onde se incluía D. João de Portugal, daí resultando milhares de quilómetros a separá-los (“There’s such a difference between us / And a million miles [Há tantas diferenças entre nós / E um milhão de quilómetros]”.
Nessa batalha perdeu-se grande parte do exército português liderado pelo rei. Muitos (vivos e mortos) não regressaram à pátria. Um desses foi D. João de Portugal. Durante sete anos D. Madalena de Vilhena tentou saber o que acontecera ao marido, enviando emissários, gastando grandes quantias de dinheiro, mas sem resultado: “Sabeis como chorei a sua perda. Cabedais e valimento, tudo se empregou; gastaram-se grossas quantias; os embaixadores de Portugal e Castela tiveram ordens apertadas de o buscar por toda a parte; a todos se encomendava o seguir a pista do mais leve indício que pudesse desmentir, pôr em dúvida ao menos aquela notícia que logo viera com as primeiras novas da batalha d'Alcácer” (“At least I can say that I’ve tried [Pelo menos posso dizer que tentei]”). Daí vem o constante “Hello”, que, no entanto, nunca obteve uma resposta (“But when I cal you never seem to be [Mas quando eu ligo parece que nunca estás]”.
Após sete anos, apenas Telmo, o fiel escudeiro, continuava a acreditar que o seu Senhor voltaria:“«vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo».— Não era assim que dizia?”. E D. Madalena refaz a sua vida com consentimento da família de D. João.
Quando, vinte e um anos depois, o Romeiro se apresenta como um peregrino, mentindo acerca da sua própria identidade, ninguém o reconhece e D. Madalena, que sempre estivera perturbada (“I was wondering [Estava a questionar-me]”) com a possibilidade de viver em pecado, parece estranhamente calma. Os vinte anos de cativeiro transformaram D. João de Portugal.
Os versos “Hello / It's me / I was wondering if after all these years you'd like to meet [Olá / Sou eu / Estava a pensar se depois de tantos anos gostavas que nos encontrássemos]” podem refletir um desejo de D. João de Portugal quando reencontra D. Madalena, apesar de essa não ser a sua intenção inicial, uma vez que o seu intuito era vingar-se. Isto percebe-se no Ato III, quando D. Madalena pensa que do outro lado da porta está Manuel de Sousa: “Esposo, esposo, abri-me, por quem sois! Bem sei que aqui estais! Abri!”;É ela que me chama! Santo Deus! Madalena que chama por mim.”. Mas, quando D. João percebe o engano, mostra-se exaltado (“Ah! E eu tão cego que já tomava para mim! Céu e inferno!”) e, por momentos, parece querer executar a sua vingança. No entanto, arrepende-se: “I’m sorry for everything that I’ve done [desculpa por tudo o que fiz]”.
Podemos concluir que, nesta tentativa de retomar o contacto com D. Madalena e com a sua vida antiga, o Romeiro percebe que isso era impossível porque o seu lugar deixou de existir, como refere Telmo: “vós não sabeis. […] Que há aqui um anjo. Uma outra filha minha, senhor, que eu também criei”. Daí ele desistir do seu plano inicial, numa atitude altruísta, ao contrário do que planeara (It’s so typical of me to talk about myself / I’m sorry [É tão típico falar apenas de mim /Desculpa]”) e apelar a Telmo: “Vai, vai: vê se ainda é tempo; salva-os, salva-os que ainda podes…”.

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